Nunca entendi direito esse negócio de dia das mães. Quando eu era pequena, e essa data se aproximava, eu sempre ouvia as pessoas dizendo, "ah, mas dia das mães é todo dia"! Mesmo minha mãe parecia partilhar desta opinião. O problema é que, se eu não aparecesse com um cartãozinho que fosse, ela só faltava chorar. Não duvido que chorasse, mas não na minha frente.
Então, cresci. Com essa consciência meio paradoxal, de que diariamente eu deveria celebrar minha mãe, mas que um presentinho no segundo domingo de maio era essencial. Não importava se, durante todos os dias do ano, eu levasse uma flor pra casa ou escrevesse bem grande, numa folha de papel sulfite e com hidrocor colorida, que a amava. Dia das mães é sagrado, e, se eu fazia bastante no decorrer do ano, nesse dia em especial eu devia ir além da perfeição.
Há quase seis anos, sou órfã. Portanto, é o sexto dia das mães que chega, e eu nem fiz nada durante o ano para homenagear minha mãe. Também não preciso comprar um presentinho, teoricamente. Mas apenas em teoria.
Porque, no decorrer desses seis anos, ganhei várias mães. E é a elas que eu gostaria de prestar homenagem nesse dia, tão desnecessário, mas suficientemente simbólico.
Agradeço a minha tia Ilca, por ter me acolhido de imediato no momento mais difícil da minha vida. A "tia" Leila, que tomou em suas mãos a missão de me amparar emocional e psicologicamente na hora exata em que eu senti meu mundo desmoronar - ainda que tenha sido "minha mãe" por apenas uma tarde, nunca vou me esquecer. A Analucia, minha madrasta, por ter superado a má impressão que causei quando não passava de uma pestinha mimada, e ter estado ao meu lado quando o destino nos forçou a conviver - a ponto de termos chorado quando bati minhas asas recém abertas e fui voar pelo mundo.
A Ana Susana, por ter se disposto a compartilhar o teto comigo, mesmo quando eu não tinha muitas condições de contribuir, e por ter me ajudado tanto com questões de emprego, estudos, brigas conjugais - porque sogra também é mãe, às vezes mais que duas vezes. A Dona Wanda, que me dá remédio quando estou doente, me empresta a bengala quando torço o pé e nunca me deixa me sentir muito sozinha.
A "tia" Arlete, que, com toda sua autoridade maternal - que agora se estende a mim, superando até a autoridade sogrística -, me proíbe de ir ao trabalho ou voltar pra casa quando chove muito forte, e insiste que eu coma mais um pouquinho porque "vocês estão muito magrinhas". A "tia" Eliana, que me abraça quando choro de saudades da minha mãe, me puxa as orelhas com jeitinho quando sabe que briguei com Taz ou que estou dando pouca bola pra faculdade e me incentiva a cada passo desajeitado que dou rumo a essa coisa inquietante que é escrever.
A Deusa, que, quando choro no escuro para que ninguém me veja, está ao meu lado, me faz cafuné e me ajuda a pegar no sono, me contando histórias de dias melhores que virão.
Enfim, a todas as mulheres da minha vida, porque toda mulher é um pouco mãe de seus amigos. Dia das mães também é dia das mulheres. Portanto, feliz dia das mães para todas nós!
(E eu espero que amanhã meus gatos, mais que gatos, meus filhos, me recebam em casa com um ronronar bem carinhoso.)