Detesto caminhar pelas ruas de meu bairro sozinha depois que anoitece. Sempre fica algo no ar, algo que não sei bem descrever, mas que me causa uma impressão horrível.
Chamem de paranóia, mas sempre me sinto observada.
Esta noite não foi diferente. Minha escolta usual me abandonou à própria sorte, e lá fomos nós andando do trabalho para casa, apenas eu e meu anjo da guarda. Não fazia sentido pegar um ônibus, porque é só um ponto de distância. Demoraria mais do que os cinco minutos usuais.
Quando entrei na minha rua, a sensação começou.
É um formigar na nuca que sempre me aflige quando estou em uma situação de perigo iminente. E, ao dobrar na esquina, foi como se mil agulhas entrassem no meu corpo.
A rua estava escura, tão escura que mal enxergava os contornos das casas. Não sei dizer se realmente estava assim ou se era só minha imaginação.
Apertei o passo. E ouvi, distintamente, sons de passos atrás de mim, correndo sobre as folhas secas. Fui para o meio da rua, com medo das sombras da calçada. Um carro passou e me fez mudar de idéia. Voltei para a calçada.
Então um farfalhar me sobressaltou. Uma força maior que a minha me fazia entreabrir as pernas, senti algo atravessando. Corri.
Corri como se minha vida dependesse disso. Corri, e deixei naquela calçada escura meu nêmesis e o que sobrou de minha dignidade. Àquela altura, a possibilidade de ser atropelada não me incomodava mais. Morrer por um fusca seria mais honrado.
Afinal, nada pode ser mais vergonhoso que morrer devorada por um camundongo de rua.