quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Monstro

Detesto caminhar pelas ruas de meu bairro sozinha depois que anoitece. Sempre fica algo no ar, algo que não sei bem descrever, mas que me causa uma impressão horrível.

Chamem de paranóia, mas sempre me sinto observada.

Esta noite não foi diferente. Minha escolta usual me abandonou à própria sorte, e lá fomos nós andando do trabalho para casa, apenas eu e meu anjo da guarda. Não fazia sentido pegar um ônibus, porque é só um ponto de distância. Demoraria mais do que os cinco minutos usuais.

Quando entrei na minha rua, a sensação começou.

É um formigar na nuca que sempre me aflige quando estou em uma situação de perigo iminente. E, ao dobrar na esquina, foi como se mil agulhas entrassem no meu corpo.

A rua estava escura, tão escura que mal enxergava os contornos das casas. Não sei dizer se realmente estava assim ou se era só minha imaginação.

Apertei o passo. E ouvi, distintamente, sons de passos atrás de mim, correndo sobre as folhas secas. Fui para o meio da rua, com medo das sombras da calçada. Um carro passou e me fez mudar de idéia. Voltei para a calçada.

Então um farfalhar me sobressaltou. Uma força maior que a minha me fazia entreabrir as pernas, senti algo atravessando. Corri.

Corri como se minha vida dependesse disso. Corri, e deixei naquela calçada escura meu nêmesis e o que sobrou de minha dignidade. Àquela altura, a possibilidade de ser atropelada não me incomodava mais. Morrer por um fusca seria mais honrado.

Afinal, nada pode ser mais vergonhoso que morrer devorada por um camundongo de rua.

sábado, 10 de janeiro de 2009

Abusando do Politicamente Incorreto (ou Porque não vou pro céu)

Bial: Bem vindos, senhoras e senhores, à primeira edição do programa Big Brother Deficientes Mentais! Nossos participantes acabaram de entrar na casa, então, já é hora de dar uma espiadinha!

A câmera fecha em um rapaz de camisa verde que está esmurrando frenéticamente a porta.

Rapaz: Me tirem daqui! Eu quero sair! Eu quero minha mãe! AAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHHH!

A câmera focaliza em uma mocinha de azul, sentada no canto, balançando-se em um ritmo lento, olhando para o nada e sem dizer palavra.

Novamente a câmera muda, e vemos um rapaz de laranja, parecendo bem feliz, correndo de um lado para o outro do gramado. De repente ele para.

Rapaz: Gente, acho que fiz cocô na calça! Quem vai me limpar?

(...)

***

Algum tempo depois, chega o momento do líder indicar alguém para o paredão

Bial: E agora, José? Quem será seu indicado para este primeiríssimo paredão da casa?
José: O Flávio, Bial.
Bial: Flávio? Mas não tem nenhum participante chamado Flávio!
José: Como não? Olha ele aqui! Do meu lado! Eu disse pra ele que só pode entrar um de cada vez no confessionário, mas ele insistiu em vir, porque não acreditou que eu fosse indicar ele. ... O quê? Que é, Flávio? Cala a boca, é minha vez de falar! (...)

***

E é chegada a hora de revelar o eliminado da semana...

Bial: E, com 100% dos votos, Marieta é eliminada, já que não tinha oponentes.

Câmera foca em uma mulher com aparência extremamente normal.

Bial: Marieta? Você não tem nada a dizer?
Marieta: ... ...AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHH!

Marieta levanta do sofá e sai correndo e gritando pela casa, destruindo tudo pelo caminho. Com o susto, um outro rapaz, até então igualmente quieto, pega uma faca afiada e finca na parede, a poucos centímetros da orelha esquerda de José.

Bial: Pô, produção! Quem foi que deixou uma faca afiada entrar na casa?

José faz cara de choro.

Bial: José, você está bem?
José: FLÁVIO! VOCÊ MATOU ELE, SEU ASSASSINO!
Bial: Hein?
José: FLÁVIO, FALA COMIGO, FLÁVIO! RESPONDE! Poxa, eu sei que disse que queria eliminar ele, mas não era assim... Náo era pra ser assim... Buááááááá Flávio, me perdoa!
Psicopata: Poxa... foi mal, cara...
José: Seu assassino! ASSASSINO! VOCÊ MATOU O FLÁVIO!

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Dessintonizada

Pois é, pois é. Depois de um longo recesso, é hora de voltar à vida adulta. Infelizmente.

Por mais que eu quisesse imitar a tia Eliana e escrever um texto metendo o pau no natal, não consegui encaixar na minha agitadíssima agenda de férias. Agitadíssima, claro, porque, com apenas 2 semanas de folga, é quase impossível arranjar tempo pra fazer tanta coisa quanto se gostaria.

Assim como também vou ficar devendo textos sobre reveillon e dias imediatamente anteriores, mesmo tendo coisas absurdas a contar. Até certas pessoas de saia eu vi. Mas, como não tirei fotos, ninguém vai acreditar.

Enfim. E hoje, um dia após o reinício da minha querida rotina - lembrem-se, virginianos amam rotina -, constatei que ainda não voltei muito bem ao normal. Meu ritmo e o ritmo do resto do mundo parecem não ter chegado a um acordo pacífico, e insistem em se digladiar o tempo todo. E, por fim, quando decidem ceder, o fazem ao mesmo tempo. Parece até coisa de desenho animado.

Porque, até a hora em que eu saí da Lapa para vir para o trabalho, era eu quem estava correndo demais. No melhor estilo "coelho de Alice", minha manhã inteira consistiu em correr para fazer as coisas e ter que ficar muito tempo esperando para poder terminar. Saí de casa 6h40; o ônibus só deu o ar da graça 7h20. Cheguei no médico - onde tinha consulta marcada para as 8h - 7h40; fui ser atendida 8h20. 

Isso tudo pra não falar na meia hora na porta do shopping Lapa esperando este abrir pra poder tomar café da manhã. Ou mais uns 15 minutos esperando a mocinha da banca de jornal voltar com meu troco. Ou chegar no trabalho da patroa 9h45 e ter que esperar por ela por cerca de 1h. Tudo bem, admito, essa espera eu estava psicologicamente preparada para suportar.

E o ônibus. Sempre os ônibus. Para concluir a parte "mim coelho-no-cio-depois-de-speed, você lesma-paralítica-em-câmera-lenta", cheguei na Lapa 12h30, certa de que daria tempo de chegar em casa, tomar banho com calma e vir para o trabalho fresca e saltitante. Era minha tentativa de fazer as pazes com o Tempo.

Que, claro, foi por água abaixo quando o velhinho sacana resolveu fazer com que meu ônibus levasse meia hora para aparecer. E se vingou correndo quando eu mais precisava que ele se arrastasse.

Cheguei em casa e ainda consegui a proeza de em 15 minutos tomar banho, me trocar, contar toda a epopéia temporal pro roommate, falar no telefone com a patroa, fazer cafuné nos gatos, arrumar a mochila e chegar ao trabalho a tempo. Eu em velocidade 0.5x, o tempo a 200km/h. Ainda assim, eu ganhei.

Chupa, Cronos!