terça-feira, 30 de setembro de 2008

"Todos os dias, faça algo que lhe dá medo"

...já dizia Roosevelt. E eu tô fazendo, tio! Aliás, nem é qualquer coisa que me amedronte - é só a coisa que mais me dá medo no mundo, de todas as coisas que me amedrontam (a lista vai de Altura a Zarolhos, mas não contem pra ninguém)

Mas e a parte de lidar com o medo, faz como? Senta e chora?

Porque mandar a galera deixar de ser viadinha e encarar o mundo, os seus problemas e seus bloqueios de frente é muito fácil, dar dicas de como fazer isso é que ninguém dá. Sabia que não devia seguir os conselhos de um ex-presidente americano. Minha mãe costumava dizer que isso dá azar...

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Um milhão de coisas para fazer e nenhuma vontade.
Duzentos kilos de textos para ler e nenhuma concentração.
10 unhas para lixar e pintar e preguiça de pegar o esmalte.
Um favor para fazer para a avó mas falta de saco de abrir o site.
Sono, muito sono. Mas não consigo dormir tranqüila sabendo que há tanto a fazer.

Hoje é meu dia livre. Hoje é meu dia de preguiça. E, com tanto tempo nas mãos, não tenho idéia do que fazer, nem paciência para as coisas que preciso resolver.

Passei a semana inteira reclamando que queria férias, e que cansei de brincar de ser estudante e trabalhadora simultâneamente. Agora, estou sentindo falta do trabalho. Não consigo mais me concentrar sem ter uma horda de crianças circulando pela minha sala, sem tremer de frio por causa do ar condicionado forte, sem ter que parar a cada cinco minutos pra adiantar coisas pro meu chefe.

Socorro! Acho que virei workaholic.

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Solitude

No dia em que minha vida se acabou, havia tantas nuvens que não se enxergava o céu. Era um teto cinzento, sem falhas, homogêneo. Parecia que o sol, ciente do que estava por acontecer, se recusou a mostrar sua face, por receio de derramar lágrimas e competir com a garoa fina que caía sobre a cidade.

Órfão muito cedo, sempre fui rejeitado pelas outras crianças. Sabe como elas são: ávidas pelo breve prazer de desmerecer tudo aquilo que é diferente do que estão acostumadas. E, não tendo uma mamãe nem um papai, eu era um prato cheio para suas implicâncias e pequenas crueldades. Crianças são criaturinhas malignas; em toda sua inocência, elas são as que melhor sabem onde enfiar um alfinete para que a dor seja maior. Logo aprendi a não confiar em ninguém.

Por isso, cresci sem amigos. Sempre tive medo dos seres humanos. Sempre tive medo da rejeição. E sempre tive medo da solidão, por contraditório que possa parecer. E assim, eu andava sozinho na cidade. Era tudo brilhante, colorido, cheio de vida; eu só enxergava o cinza do céu, as lentes dos óculos embaçadas e úmidas.

Através da névoa que só cobria meus olhos, eu a vi. Era um broto de rosa, em todo seu viço, perdido na aridez do deserto, do meu deserto particular. Era bela, mas de uma beleza distante, insensível, era uma rainha de gelo. E por sentir nela uma cumplicidade que nunca encontrei em nenhum outro ser humano, ignorei meus instintos de lobo solitário e tentei me aproximar.

Talvez fosse destino; talvez ela só estivesse entediada, e eu aparentasse ser uma boa maneira de passar o tempo. Mas consegui, por fim, ultrapassar a barreira de indiferença que ela ostentava, e, pela primeira vez, pude chamar alguém de "amigo". Nos tornamos muito próximos em muito pouco tempo, éramos quase que indivisíveis: nos completávamos, tão diferentes um do outro, tão iguais. A frieza era só no exterior: Marie, esse era seu nome, era de doçura inebriante, e sua alegria de viver contagiaria até mesmo o robô depressivo de um filme a que assistimos juntos. Eu me contentava em admirar, embevecido, esperando algum dia conseguir ser assim.

A admiração tornou-se algo mais forte. Fiquei confuso, perdido, nunca sentira aquilo e não sabia como lidar. A vontade era de fugir, de escapar daqueles olhos penetrantes que pareciam rir das minhas ilusões românticas. Mas algo me prendia, e acabei por me deixar ficar. Nunca tive coragem de me abrir. Medo, muito medo de que ela, espantada por tanta intensidade vir de mim, se afastasse e me deixasse sozinho novamente. Levei tempo demais para demolir meus muros; não queria que tivesse sido à toa.

Um dia, passeávamos juntos por um parque. Ela contava uma de suas histórias, ela tinha milhares de histórias para contar. Eu sempre ficava ouvindo, feliz só de gravitar ao redor dela. De repente, não sei como nem porque, ela olhou para mim. Era uma sonda vasculhando até o fundo de minha alma, era um buraco negro que me engolia, era algo de inenarrável. Vi passar uma sombra pelo olhar, antes tão cristalino. Soube que seria desmascarado.

Reencontrei minha velha conhecida, a rejeição. Tentei consertar as coisas, mas Marie achou por bem nos afastarmos, antes que acabasse por me magoar. Como se a separação não fosse a maior mágoa...!

Assim, voltei a vagar, sozinho, pela cidade cinzenta. Pra variar, as condições meteorológicas conspiravam contra mim: como se apenas para reforçar o drama do momento, começou a chover no momento em que a avistei. Feliz, sem mais nada do gelo que me encantou à primeira vista, nos braços de um homem. Estaquei, atordoado, sem vontade de mais nada.

Nem mesmo de sair do meio da rua, onde um carro me acertou em cheio. O cinza do céu, o cinza da cidade, as brumas dos óculos começaram a escurecer.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Primeiros dias

Lembro que, no primeiro dia de aula na faculdade, estava nervosíssima. Mais ou menos o mesmo processo de todos meus "primeiros dias" de aula, toda vez que eu mudava de colégio. E, bem, não foram poucas. Mas divago.

O primeiro dia em um lugar que você forçosamente terá que freqüentar sempre é meio doloroso. Há expectativa demais, e, como todos nós sabemos, expectativas que dependem exclusivamente da ação de terceiros raramente são alcançadas. Chegamos à escola - ou faculdade, que seja - esperando conhecer pessoas legais, fazer amigos com facilidade e entender o assunto sem precisar bater a cabeça na parede. Graças aos Deuses (e, a despeito do que uma professora de latim que conheço teima em dizer a cada duas frases, ainda há politeístas no ocidente, sim senhora! Pare de ridicularizar minhas crenças!), até agora minhas esperanças com relação à faculdade estão sendo mais que satisfeitas.

De toda sorte, hoje foi mais um dos meus muitos primeiros dias. Não foi meu primeiro dia de trabalho; sequer foi meu primeiro dia dando aulas, ou mesmo meu primeiro dia especificamente neste curso de inglês. Mas estou há um ano e meio sem dar aulas, e eu não sabia o que esperar desta filial onde fui trabalhar desta vez. Calculem o nível de expectativa.

Mas o fantasma do primeiro dia passou, e eu ainda não estou muito certa do que esperar dos próximos. Com sorte, não serei "a escraviária", como era na outra filial. Ser monitora nesse curso é algo meio complexo; se eu já não conhecesse o procedimento padrão, me espantaria ao saber que minha função não é apenas dar aula, mas cuidar dos computadores, da biblioteca, dos petizes que precisam esperar os pais e de quase tudo que é problema que aparece e que os professores não têm tempo de resolver. 

No entanto, o dia foi tranqüilo, até demais. Consegui terminar de ler as duas Antígonas antes mesmo que o chefe viesse me avisar que poderia ir para casa uma hora mais cedo, se quisesse. Amanhã é que o bicho vai pegar, e estou ansiosa por um pouco de ação. Espero que meu inglês não tenha enferrujado a ponto de me fazer passar vergonha com os alunos do básico.

domingo, 21 de setembro de 2008

Pathos

Acho que entendo o ponto de vista de Platão quando ele diz que paixão é uma doença, e que esta deve ser evitada a todo custo.

Sob o efeito desse terrível mal, é quase impossível pensar em qualquer coisa que não o objeto de sua afeição. Mesmo quando se tem outras coisas para as quais direcionar esse sentimento. Mesmo quando se está fazendo algo que, sob circunstâncias "saudáveis", poderia ser a coisa mais divertida de todo o universo.

É um sentimento doloroso. De tanto pensar na pessoa amada, perdemos o sono, a concentração, o apetite, a identidade. Se cantamos, as canções são para ela; se escrevemos, tudo o que sai são declarações de amor. É algo tão brutalmente intenso que chega a doer fisicamente. Talvez a vida fosse melhor se tal sofrimento não existisse.

Mas, sabe? Concordo com Nanda quando ela diz que é um mal necessário para colorir nossas vidas. Aliás: é esse mal que nos faz sentir vivos. E, sem esse doce sofrimento, a vida não teria graça alguma. Portanto, a perfeição de Platão que vá às favas. Não quero um conforto apático; já disse Aldous Huxley, na citação mais perfeita de todos os tempos: "Quero Deus, quero poesia, quero perigo, quero liberdade, quero bondade. Quero pecado." E, principalmente, quero paixão, também. Em doses cavalares, sempre que possível, realizável ou não, não importando o quanto sofremos.

Afinal, apenas para citar outro de meus autores preferidos, de acordo com Dostoiévski em "Crime e Castigo": Sofrer e chorar significa viver. E ponto final.

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Freak show

Sabe o tipo de pessoa que tem o dom de atrair figurinhas estranhas? Esse é meu amigo Tyler. Pouco mais alto que eu, meio gordinho, de ascendência oriental, extremamente prestativo - a ponto de acordar horas mais cedo que o habitual para, digamos, levar uma amiga para tirar o gesso do pé ou levar o trabalho de LetA09 da mesma amiga na faculdade para ela - e... completamente maluco. No bom sentido, claro - afinal, quem é que quer ser normal em um mundo tão confuso?

O caso é que Tyler é um ímã de pessoas socialmente deslocadas. Palhaços-flanelinhas cismam com a cara dele. Mendigos do Pelourinho apelidam-no de Jet Li e seguem-no por horas. Limpadores de vidro de carro o adotam como tio. Enfim, talvez seja a aura de surrealismo que o cerca, talvez a referida aura seja de acolhimento - não importa: os rejeitados, os marginalizados e os transviados o amam.

No entanto, como já disse antes, ele não é muito normal. Houve casos em que ele saiu correndo do carro no meio do engarrafamento e deixou o celular, porque queria comprar chicletes no posto de gasolina uns cinqüenta metros à frente e, depois, para nos encontrar, tomou emprestado o celular de uma prostituta e ligou para si mesmo. Ou passou gritando na frente de uma boate lotada - para onde iríamos, mas desistimos por estarmos todos meio adoentados -, acusando todos os freqüentadores de serem "tudo v*ado e p*ta!". Ou botou seu traseiro avantajado na janela na frente do Caranguejo de Sergipe e anunciou a venda a R$1,00. Essas coisas totalmente comuns e aceitáveis (ou não) na nossa sociedade atual.

Há poucas horas, estávamos em uma lanchonete. Éramos cinco. Chovia, e juntávamos toda a coragem que tínhamos para correr até o carro. Enquanto nos preparávamos, notamos que o grupo ganhara um novo integrante: um mendigo, verticalmente debilitado e extremamente comunicativo. Que, como era de se esperar, tomou-se de amores por Tyler.

Nosso novo amigo nos acompanhou até o carro e, cavalheiro que era, fez questão de abrir a porta para mim e para a outra Diana do grupo. Admito que achei meio fofo - estou acostumada com pedintes que... pedem. Não com aqueles que tentam "mostrar serviço" para merecer uma gorjeta. Só que, dessa vez, eu realmente não tinha a dime to spare. Então ele voltou-se para nosso chinês de estimação, que, no auge de sua inspiração, responde:

- Não, Frodo, seu anel não está comigo.

Sei que é extremamente cruel, mas não houve senso ético que nos impedisse de rir às lágrimas. Inclusive nosso amiguinho portátil, que aparentemente conhecia a saga do hobbit. Surgiram moedas em honra ao senso de humor do pequenino e fomos embora.

Não é por nada não, mas acho que, se existir um inferno, e se depender dos meus amigos... É para lá mesmo que eu vou.

Esclarecendo o batismo

Há cerca de uma semana que venho enrolando para explicar o nome do blog. Juro, não é só pela minha nítida gatofilia!

Já deve ter sido amplamente notado que eu raramente sigo uma linha de raciocínio. Meu pensamento é enrolado - por isso que as idéias não se comportam, elas se perdem no meio do caminho da sua sala de repouso até o trabalho. A verdade é que não tenho UMA linha de raciocínio: são várias, e elas se cruzam, e se embolam, e entrelaçam-se e misturam-se e... fazem a maior confusão.

Tipo assim:


Fazendo assim... uma cama de gato!




Tenho plena consciência de que esse foi um dos piores textos que eu já escrevi. Calma, mais tarde eu posto alguma coisa menos inútil ;)

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Clowns (Can you see me now?)

All this weeping in the air
Who can tell where it will fall?
Through floating forests in the air
'Cross the rolling open sea

Blow a kiss, I run through air
Leave the past, find nowhere
Floating forests in the air
Clowns all around you

Clowns that only let you know
Where you let your senses go
Clowns all around you
It's a cross I need to bear

All this black and cruel despair
This is an emergency
Don't you hide your eyes from me
Open them and see me now

Can you see me now?
Can you see?

Sabe quando você está totalmente no mood pra ouvir uma determinada banda? É, desde ontem que não consigo parar de ouvir t.A.T.u um segundo que seja. Especialmente essa música. Vá entender...

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Resgato

Terminei meu cigarro e fui adiantar minha vida. Parei para dois dedos de prosa com um dos meus muitos psicopompos de estimação, quando ouvi chamarem meu nome.

Ela corria desesperada da porta aos fundos do prédio. Olhava para mim, chorava, pedia ajuda, recomeçava a maratona. Logo entendi o desespero: seu bebê, ainda menor que minha mão, preso em um buraco.

Com medo de apanhar - afinal, independente da espécie, uma mãe desesperada vai lutar com unhas e dentes pela proteção do seu filhote -, me aproximei da criaturinha assustada. Uma coisinha minúscula e tremelicante, de enormes olhos azuis e sardas sarapintando o narizinho delicado. Não ofereceu resistência e, tão logo se viu alçada do chão, agarrou-se à minha camisa como se sua sobrevivência dependesse disso. Cruzei os braços, protetoramente, e a levei até sua casa.

A mãe, depois de ver que sua cria estava segura, foi cuidar de seus afazeres e deixou a criança sob meus cuidados. Tão logo esta se acalmou, graças à segurança de seu lar, fui para minha aula.

E foi assim que fiquei amiga de Pandora, a filhota de Felícia. Ambas moram na caixa de papelão na entrada do ILUFBA, e, da última vez que chequei, estavam indo muito bem, obrigada. 

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

De Olhos Bem Fechados (Eyes Wide Shut, 1999, EUA)

Depois de irem a uma festa juntos, a vida do casal Bill Harford, médico (interpretado por Tom Cruise) e Alice Harford (Nicole Kidman) parece começar a escoar ralo abaixo.

É quase impossível fazer uma resenha de respeito desse filme sem soltar algum spoiler acidental, então fiquem apenas com a premissa deste ótimo filme de Kubrick.

Aliás, creio que cabe aqui dizer que foi o primeiro filme dele que assisti. E foi o suficiente para despertar minha curiosidade para assistir outros. É instigante, é curioso, é bad trip total. Atenção especial à cena da discussão dos dois após fazer algo ligeiramente ilegal. Me fez dar graças aos Deuses por não ter o hábito de conversar muito quando estou menos que sóbria.

Não se deixe assustar pelo fato de o filme ser longo (são cerca de duas horas e meia de duração), denso (afinal, é Kubrick) e de ritmo ligeiramente arrastado. A história acabará em dois tapas, e você ficará com aquele leve gostinho de quero mais.

Fortemente recomendado, com quatro gatinhos (de cinco) na escala Dee de qualidade.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Bastet

Tudo bem, já ficou bem claro no meu post anterior que sou gatófila. O que poucas pessoas sabem é que não o sou por opção própria - os pobres bichanos vêm atrás de mim.

Não basta eu viver cercada pelos pequeninos, quando não estou dentro da sala de aulas. Não é suficiente eu ter duas pragas peludas e destruidoras em casa. Oh, não, nunca será o bastante eu ter chaveiros de gato, gatos de pelúcia, gatos bordados nos shorts e gatos de biscuit feitos por mim mesma. É claro, óbvio, totalmente esperado que eles apareçam em todos os lugares que eu for. Independente da forma.

Vou trabalhar num evento oriental? O estande em que estou vende gatos de pelúcia e orelhinhas de gato. Vou comer um kibe no Pelourinho? Aglomeram-se uns 15 gatos ao meu redor, mendigando atenção e um pedacinho de carne. Vou comprar miçangas pra fazer artesanato? Tem três gatos deitados na porta da minha loja preferida. Vou na vendinha da esquina comprar os ingredientes do bolo que vou levar pro batismo amanhã? É, isso mesmo, uma gata no cio logo na porta, desesperada para vir comigo pra casa. Vou no shopping jogar pump e abraçar amiguinhos? Um deles acabou de achar um chaveiro gigante de gato de pelúcia no chão e resolve me dar, já que coleciono chaveiros e adoro gatos.

Depois as pessoas me perguntam por que sempre há pelos nas minhas roupas, e por que tenho tantas cicatrizes de arranhões. Não adianta, queridos. Posso ter um quê de David Bowie - e, portanto, ser meio camaleônica -, mas uma coisa a meu respeito nunca vai mudar: sou uma pessoa felina.

O que você faria se só te restasse este dia...

Nunca fui de levar muito a sério essas coisas de fim do mundo. Por isso, quando Rafa veio comentar que "o mundo ia acabar por causa da experiência com o acelerador de partículas em Genebra", nem esquentei muito minha cabeça. Aliás, quando ele disse que nem conseguiu dormir direito à noite, ainda que tenha soado cruel, não consegui conter o riso.

Mas depois eu parei pra pensar no assunto. Impossível não lembrar daquela dinâmica logo na primeira aula, sobre o que faríamos se o mundo acabasse amanhã. Senti vontade de fazer um monte de coisa que sabia que não devia, porque, afinal, vai que acaba mesmo?

Me senti fútil, pois, sentada sozinha - ou melhor, com os gatos, amores da minha vida - na frente do ILUFBA, só conseguia me perguntar se, depois da morte, os gatos iam para o mesmo lugar que as pessoas. É estranho - o pensamento da morte me assalta e eu só penso se terei companhia dos meus animaizinhos preferidos no lugar pra onde vou.

Verdade seja dita, a idéia da eternidade sem gatos me parece mais dolorosa do que a idéia da eternidade sem amigos. Call me crazy, mas acho que, no lugar para onde a gente vai, prefiro ter um psicopompo* como companheiro a uma pessoa tão perdida quanto eu.

+++

Diga-se de passagem, até agora não entendi por que resolveram fazer essa experiência. OK, eu sei que é a tentativa de reproduzir o Big Bang. Mas... para quê? Por que arriscar a existência como um todo? Para comprovar a não-existência de Deus (ou da Deusa, ou dos Deuses, tudo de acordo com o gosto do freguês)? Para ter o poder de criar um novo universo em miniatura, e, assim, não apenas derrubar um mito como tornar-se seu substituto?

Alegam que é no melhor interesse da humanidade. Até onde sei, faço parte da humanidade (embora às vezes esteja mais para felinidade), e ninguém me perguntou nada. Com isso, me sinto como se fosse novamente criança, lá naquela época longínqua em que meus pais me matriculavam em aulas de dança contra a minha vontade, dizendo que era pro meu bem, quando tudo o que eu queria era seguir com minha vidinha numa boa.

Duas coisas aí me impressionam: o fato de a curiosidade humana não ter limites e a capacidade de certos pesquisadores de se acreditarem com poderes divinos.

E, bem, se todo o mais der errado, nos vemos em Summerland**!




*: Psicopompo: Animais que acredita-se terem o poder de fazer a travessia entre o mundo tangível e o mundo espiritual, funcionando como guias astrais. Alguns dos citados como tal são: gatos, corvos, lobos, cisnes, etc.

**: Summerland: De acordo com algumas vertentes da crença pagã, Summerland é o lugar para onde vamos após o final de um ciclo de vida. Crê-se que seja um local de profunda paz e beleza, para reflexão sobre o que aprendemos durante a vida que acabamos de abandonar, e preparação para as futuras reencarnações. Outras vertentes acreditam que seja o local para onde vamos após encerrar todos os ciclos de reencarnação, atingindo assim o auge da compreensão e iluminação espiritual.

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Ai, bloqueios...

É impressionante: tenho duzentas mil idéias do que escrever e como escrever. Anoto tudo num caderno e fico ansiosa para chegar em casa, desenvolver o texto e, finalmente, postar.

Aí eu chego e... sabe as tais duzentas mil idéias? Não consigo achar uma que preste. Parece que só naquele momento em que eu tive a idéia é que eu poderia desenvolvê-la satisfatoriamente - em casa, relaxadas que são, elas se soltam, tiram os sapatos, arremessam o casaco na cadeira e acabam por perder o glamour.

Escrever não é difícil. Ter idéias sobre o que escrever também não. O difícil é convencer a idéia a se comportar...

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Cheiro de casa nova

(Copiado do endereço antigo, a saber, aqui, alterado porque eu sou uma tonga e fiz besteira)

Que sempre há uma certa resistência em mudar de endereço, todo mundo - exceto aqueles que viveram a vida inteira no mesmo lugar - sabe. Por isso, fiquei um pouco apreensiva com esse projeto da professora Eliana. Mas novas experiências sempre são úteis, quaisquer que sejam elas, então, vamos nessa.

A maioria dos participantes nunca teve um blog. Eu faço parte da ínfima minoria que já tem intimidade com a ferramenta. Portanto, vocês podem imaginar a dor no coração de deixar minha "casa" de lado. Claro, eu poderia tentar cuidar de ambos os blogs, mas... verdade seja dita, o Ninguém Merece andava bem atirado às moscas sendo filho único, tendo que dividir atenção então...

Mas enfim. É isso. Como se trata de uma parte de um projeto maior, não vejo grandes motivos para falar de mim agora. Dentro em breve devemos ter uma espécie de "quem sou eu?" ali no cantinho direito, então, fiquem curiosos até lá!

Quanto ao nome do blog... é segredo até a cerimônia de batismo =x