sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

E a roda do ano continua a girar...

LadyMoon diz (23:48):
 Dee, fará alguma coisa pra comemorar o solstício de inverno?
Arielle diz (23:49):
 solstício de verão, you mean
 hemisfério sul, a roda gira ao contrário
LadyMoon diz (23:49):
 Sim sim... hehehehehe... fico lendo tanto inverno inverno inverno q ficou...
 hauhauahauhauahau
Arielle diz (23:49):
 uaheuhae
 não sei, não pensei em nada ainda
LadyMoon diz (23:49):
 Okey, dia q foi estabelecido q menino Jesus e mais uma porrada de divindades solares nasceram...
Arielle diz (23:50):
 ah sim
 também conhecido como, er, natal
LadyMoon diz (23:50):
 Olha soh q feio! Deixando de lado as próprias crenças!
 Eh... isso...
Arielle diz (23:50):
 não é deixando de lado, eu simplesmente optei por comemorar poucos sabbaths
LadyMoon  diz (23:50):
 natalis solis invictum... n sei de mais nada, soh isso...
Arielle diz (23:50):
 eu basicamente só comemoro beltane e samhain
LadyMoon diz (23:51):
 Ah tah... tadinho de menino Jesus....
 hauhauahuahauahauahau
 Foi deixado de lado por vc...
Arielle diz (23:51):
 bah, ele me deixou de lado também
 ele olhou pra minha cara quando eu nasci
 e disse
 "iiiihhh... essa daí eu deixo por conta de lilith!"
 e foi embora.

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Do nada e do vazio, nasceu o caos.

O céu azul-violáceo é um teto fosco, a redoma que sustenta nossos sonhos, tão sólido e indestrutível que desperta desejos insanos.

A cidade parece tão vazia, no seu vai-e-vem constante.

Essa cúpula provoca a chamada "síndrome de serafim". É uma vontade incontrolável de se empoleirar num lugar bem alto, o mais alto que puder, e observar o mundo lá de cima. É uma forma de se sentir acima de todas as pequenezas que preenchem nossas vidas. Além do bem, do mal e da neutralidade.

Eu gosto de dias assim.

Tudo parece tão melancólico, visto de cima. A cidade fervilha, todos são pequenas formigas agitadas, e, ao mesmo tempo, tudo parece estático. O tempo parou. É uma interminável reprise de dias que já se foram, uma tentativa desesperada de prolongar algo que já deixou de ser.

Em dias assim é que me sinto senhora do eterno nada que insisto em chamar de existência.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Contrastes

É o pálido trajado em negro.
Um desenho a nanquim na sulfite virgem.

É o masculino fragilizado, de traços e gestos suaves, vestes justas e formas delgadas.
O feminino rude, imperioso, senhor de palavras, atos e mundos.

A mancha carmesim no pergaminho virgem.
A beleza na decadência. A flor que escapa do bueiro.
O sujo na perfeição, o batom que macula os dentes impecavelmente brancos.

O mendigo louco tocando gaita de boca na porta do shopping.
O homem de negócios que observa o cavalete vazio no meio da madrugada do aeroporto.

O comum me entedia.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

The Quiet World

O mar está escuro, prenhe da tempestade que em breve há de desabar. As nuvens são de chumbo, contra um céu azul muito branco, muito cinzento. É como se o céu e as nuvens trocassem de lugar, trocassem de cor. O vento sussurra, suave como as carícias dos amantes prestes a serem surpreendidos; no entanto, logo torna-se agressivo, rude e cadenciado, como o ribombar dos tambores de guerra, e sopra para longe folhas, papéis, mágoas e medos.

A praia está vazia.

A praia está vazia, e eu não consigo parar de olhar para ela. As areias de um tom tão creme parecem brancas, refletindo a cor do céu solene. As areias parecem se alongar até o infinito, cobrindo até onde a vista alcança.

A chuva começa a cair.

Cai, e deixa marcas na areia intocada por pés humanos. As nuvens derramam seu peso sobre a areia, que queda-se, imóvel. Olhando assim, tão de passagem - eu estava dentro de um ônibus -, o mundo aparenta estar completamente vazio, todas as pessoas que restaram estavam no ônibus comigo.

Um mundo estagnado.

Imaginei a solidão de um mundo em que só existiriam as pessoas que lá estavam comigo. Imaginei se essas pessoas se sentiriam tão sós quanto eu. Imaginei a terra vazia. Segurei as lágrimas.

Ela não estaria nesse mundo. Não estaria porque não estava comigo. Ciente disso, não mais pude segurar.

O vidro do ônibus, úmido pela chuva, umideceu-se igualmente de lágrimas.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Ossos do ofício

Estava eu lendo um blog que eu conheci dia desses no trabalho, quando o guri de boné, recém saído da aula, chegou sorrateiramente por trás de mim.

- Ei, tia! - a criançada desenvolveu o hábito de me chamar de tia, só pra vingar tia Nanda e tia Eliana - Vai demorar muito aí?
- Você quer usar esse PC? - reparei que todos os computadores estavam ocupados.
- Quero, sim!
- É algo de útil, produtivo ou educativo?
- Não, é pra jogar.
- Então sim, vou demorar. Até umas 18h.
- Imaginei.

Agora me digam: depois de todas as broncas que eu, Michael e todos os outros professores damos nesses guris, isso é coisa que se diga? Mentisse dizendo que ia fazer trabalho da escola, sei lá. Ou será que sou uma pessoa tão izbezial que meus alunos não conseguem mentir pra mim me olhando no olho?

Na minha época, as crianças eram mais espertas.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Ser ou não desejar

Quero um remédio para aliviar essas dores, sintomas habituais da doença que se chama vida.
Quero algo para apagar as chamas que existem em meus olhos, incinerando todo o bom senso.
Quero rasgar vestes, ventres, carne, sangue, alma.
Quero sufocar. Sufocar o grito entalado na garganta, sufocar o ócio, o ódio. A frustração que consome, corrói e envenena.
Quero o ser para não estar. Quero o esquecimento para não existir. Quero o existir para não ser.
Quero engolir o mundo, com todos seus espinhos e arestas. Quero sentir o sangue do esôfago rasgado aquecendo por dentro a parte de mim que congelou.
Quero verter todas as lágrimas que não chorei, e libertar todas as vozes que calei por temer que elas se voltassem contra mim.
Quero o impacto profundo com uma parede de concreto, vezes o bastante para que a consciência se esvaia.
Quero a escuridão do esquecimento.