sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

E a roda do ano continua a girar...

LadyMoon diz (23:48):
 Dee, fará alguma coisa pra comemorar o solstício de inverno?
Arielle diz (23:49):
 solstício de verão, you mean
 hemisfério sul, a roda gira ao contrário
LadyMoon diz (23:49):
 Sim sim... hehehehehe... fico lendo tanto inverno inverno inverno q ficou...
 hauhauahauhauahau
Arielle diz (23:49):
 uaheuhae
 não sei, não pensei em nada ainda
LadyMoon diz (23:49):
 Okey, dia q foi estabelecido q menino Jesus e mais uma porrada de divindades solares nasceram...
Arielle diz (23:50):
 ah sim
 também conhecido como, er, natal
LadyMoon diz (23:50):
 Olha soh q feio! Deixando de lado as próprias crenças!
 Eh... isso...
Arielle diz (23:50):
 não é deixando de lado, eu simplesmente optei por comemorar poucos sabbaths
LadyMoon  diz (23:50):
 natalis solis invictum... n sei de mais nada, soh isso...
Arielle diz (23:50):
 eu basicamente só comemoro beltane e samhain
LadyMoon diz (23:51):
 Ah tah... tadinho de menino Jesus....
 hauhauahuahauahauahau
 Foi deixado de lado por vc...
Arielle diz (23:51):
 bah, ele me deixou de lado também
 ele olhou pra minha cara quando eu nasci
 e disse
 "iiiihhh... essa daí eu deixo por conta de lilith!"
 e foi embora.

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Do nada e do vazio, nasceu o caos.

O céu azul-violáceo é um teto fosco, a redoma que sustenta nossos sonhos, tão sólido e indestrutível que desperta desejos insanos.

A cidade parece tão vazia, no seu vai-e-vem constante.

Essa cúpula provoca a chamada "síndrome de serafim". É uma vontade incontrolável de se empoleirar num lugar bem alto, o mais alto que puder, e observar o mundo lá de cima. É uma forma de se sentir acima de todas as pequenezas que preenchem nossas vidas. Além do bem, do mal e da neutralidade.

Eu gosto de dias assim.

Tudo parece tão melancólico, visto de cima. A cidade fervilha, todos são pequenas formigas agitadas, e, ao mesmo tempo, tudo parece estático. O tempo parou. É uma interminável reprise de dias que já se foram, uma tentativa desesperada de prolongar algo que já deixou de ser.

Em dias assim é que me sinto senhora do eterno nada que insisto em chamar de existência.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Contrastes

É o pálido trajado em negro.
Um desenho a nanquim na sulfite virgem.

É o masculino fragilizado, de traços e gestos suaves, vestes justas e formas delgadas.
O feminino rude, imperioso, senhor de palavras, atos e mundos.

A mancha carmesim no pergaminho virgem.
A beleza na decadência. A flor que escapa do bueiro.
O sujo na perfeição, o batom que macula os dentes impecavelmente brancos.

O mendigo louco tocando gaita de boca na porta do shopping.
O homem de negócios que observa o cavalete vazio no meio da madrugada do aeroporto.

O comum me entedia.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

The Quiet World

O mar está escuro, prenhe da tempestade que em breve há de desabar. As nuvens são de chumbo, contra um céu azul muito branco, muito cinzento. É como se o céu e as nuvens trocassem de lugar, trocassem de cor. O vento sussurra, suave como as carícias dos amantes prestes a serem surpreendidos; no entanto, logo torna-se agressivo, rude e cadenciado, como o ribombar dos tambores de guerra, e sopra para longe folhas, papéis, mágoas e medos.

A praia está vazia.

A praia está vazia, e eu não consigo parar de olhar para ela. As areias de um tom tão creme parecem brancas, refletindo a cor do céu solene. As areias parecem se alongar até o infinito, cobrindo até onde a vista alcança.

A chuva começa a cair.

Cai, e deixa marcas na areia intocada por pés humanos. As nuvens derramam seu peso sobre a areia, que queda-se, imóvel. Olhando assim, tão de passagem - eu estava dentro de um ônibus -, o mundo aparenta estar completamente vazio, todas as pessoas que restaram estavam no ônibus comigo.

Um mundo estagnado.

Imaginei a solidão de um mundo em que só existiriam as pessoas que lá estavam comigo. Imaginei se essas pessoas se sentiriam tão sós quanto eu. Imaginei a terra vazia. Segurei as lágrimas.

Ela não estaria nesse mundo. Não estaria porque não estava comigo. Ciente disso, não mais pude segurar.

O vidro do ônibus, úmido pela chuva, umideceu-se igualmente de lágrimas.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Ossos do ofício

Estava eu lendo um blog que eu conheci dia desses no trabalho, quando o guri de boné, recém saído da aula, chegou sorrateiramente por trás de mim.

- Ei, tia! - a criançada desenvolveu o hábito de me chamar de tia, só pra vingar tia Nanda e tia Eliana - Vai demorar muito aí?
- Você quer usar esse PC? - reparei que todos os computadores estavam ocupados.
- Quero, sim!
- É algo de útil, produtivo ou educativo?
- Não, é pra jogar.
- Então sim, vou demorar. Até umas 18h.
- Imaginei.

Agora me digam: depois de todas as broncas que eu, Michael e todos os outros professores damos nesses guris, isso é coisa que se diga? Mentisse dizendo que ia fazer trabalho da escola, sei lá. Ou será que sou uma pessoa tão izbezial que meus alunos não conseguem mentir pra mim me olhando no olho?

Na minha época, as crianças eram mais espertas.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Ser ou não desejar

Quero um remédio para aliviar essas dores, sintomas habituais da doença que se chama vida.
Quero algo para apagar as chamas que existem em meus olhos, incinerando todo o bom senso.
Quero rasgar vestes, ventres, carne, sangue, alma.
Quero sufocar. Sufocar o grito entalado na garganta, sufocar o ócio, o ódio. A frustração que consome, corrói e envenena.
Quero o ser para não estar. Quero o esquecimento para não existir. Quero o existir para não ser.
Quero engolir o mundo, com todos seus espinhos e arestas. Quero sentir o sangue do esôfago rasgado aquecendo por dentro a parte de mim que congelou.
Quero verter todas as lágrimas que não chorei, e libertar todas as vozes que calei por temer que elas se voltassem contra mim.
Quero o impacto profundo com uma parede de concreto, vezes o bastante para que a consciência se esvaia.
Quero a escuridão do esquecimento.

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

A Metamorfose

A capacidade do ser humano de se adaptar sempre me impressionou, mas a falta de capacidade de se readaptar a uma condição previamente abandonada exibida por alguns espécimes impressiona muito mais.


Porque é comum ver pessoas que, ao conseguir um emprego melhor, por exemplo, imediatamente se acostumam ao conforto. Experimente tirar esse emprego da pessoa, retorná-la ao padrão de vida anterior. É um desespero só. Sentem-se incapazes de arcar com as despesas da própria vida. É como se esquecessem que já viveram de forma relativamente confortável pouco tempo antes.


O mesmo se aplica a alguns motoristas. Uma vez motorizados, aparentam não lembrar que já foram pedestres algum dia, e, como tal, detestavam ser quase atropelados ao atravessar a rua no sinal, ou tomar um banho de água da sarjeta em dias de chuva por causa de um apressadinho, ou mesmo não poder caminhar pela calçada porque algum mal educado a ocupou inteira com o carro.


A estes, a classificação de "ser humano" não mais cabe; tornam-se máquinas, máquinas de correr, buzinar e xingar a mãe alheia. E pobres de nós, que nunca sofremos tal transformação: a nós cabe fugir de tais instrumentos possuídos - refiro-me aos motoristas; os carros de nada têm culpa - como se nossas vidas dependessem disso. E dependem, o pior é que dependem.


Por isso não dirijo. Os fatos de não saber pilotar nada mais móvel que um fogão e não ter dinheiro pra comprar nem um patinete não influem nessa decisão. É o medo, o mais puro medo de sentir, em vez de um coração batendo no peito, o ranger de engrenagens mal lubrificadas. Juro.

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Azul

Minhas memórias dividem-se em cores, seguindo um padrão muito lógico - pelo menos para mim: são azuis as que me deixam tranqüila, beirando a melancolia. Amarelas, as que me causam desconforto, vontade de fugir, de esquecer. Vermelhas, as em que agi por impulso. Verdes, algumas que nunca consegui classificar muito bem.

Nunca entendi bem o porquê. As cores e os cheiros, não posso me esquecer dos cheiros. Dia de faxina tem um cheiro todo especial, mesmo antes da faxina começar. Dia de chuva também. Sinto quando ela chegou porque o cheiro ao meu redor muda. O cheiro da atmosfera parece mudar de tempos em tempos, e, por isso, sempre sei quando vou acordar resfriada no dia seguinte.

Sou uma pessoa olfativa e colorida. E por isso me pergunto porque raios a atmosfera lúgubre do andar inferior da Lapa tem cheiro, pra mim, de chuva. E é azul. Pelo menos na memória. Me faz me sentir nostálgica, senti que já estive lá antes logo da primeira vez em que pisei lá. Ou algum lugar bem parecido. É como se fosse um cantinho obscuro da minha memória, que é ativado apenas quando estou por lá.

Acho que minha memória tem vários cantinhos obscuros, com pequenos triggers que só funcionam em situações específicas que nem eu sei precisar quais são. Esse lugar parecido com a estação da Lapa, por exemplo. Eu não sei que lugar é esse. Não sei se é algum lugar no Rio - os pontos de ônibus da Rodoviária, por exemplo. Ou em Pernambuco - uma das muitas Estações de Integração. Ou se estive nesse lugar em meus sonhos. Só sei que é azul, muito azul. A luz é fluorescente, e, por isso, azulada. Ou talvez não tenha luz nenhuma: talvez seja azul por padrão, imutável.

Um lugar eternamente azul. E fico eu azul também, azul na minha solidão - esse lugar me transmite muita solidão -, azul no canal de transição de lugar vazio para lugar algum, azul-desespero, não de estar desesperada, mas desesperançosa. Imagino os portais do inferno de Dante azuis: Lasciate ogni speranza, o voi che entrate. E eu entrei, e mergulhei nessa imensidão azul que é a memória. E a esperança, esperança de descobrir que lugar é esse, ficou na porta, abandonada, retida, proibida.

E o ônibus azul passou, e eu entrei. E lá ficou a esperança, até que um dia eu retornasse...

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Oh, André Julio, não me deixes! Jamais te deixarei, Josefa Ursulina!

Todo mundo gosta de um dramalhão mexicano, nem que seja só para rir dos limites da criatividade humana para nomes compostos. O que ninguém se dá conta é de que, às vezes, a novela - ou alguma situação típica desta - pode acontecer na vida de alguém bem próximo a você. Ou até mesmo na sua própria vida, como aconteceu comigo.

Era uma noite chuvosa e abafada de dezembro, no Rio de Janeiro. Todas as noites de dezembro no Rio de Janeiro tendem a ser chuvosas e abafadas, exceto aquelas que são só abafadas e sem uma única gota de chuva, mas essas são raras. Meu amigo, ex namorado e eterno inimigo ia viajar para Iguaba Grande, que de grande só tem o nome, uma cidadezinha na Região dos Lagos, para passar o natal com a família. Como eu não tinha absolutamente nada melhor para fazer, resolvi acompanhá-lo até a rodoviária, só para ter uma desculpa pra sair de casa.

Na volta, sentei no último banco do ônibus. Aqui cabe um aparte: apesar de ser proibido fumar em coletivos, no Rio, pelo menos nessa época, o tabagismo era tolerado se praticado apenas no último banco do ônibus e na janelinha. Então me sentei no bendito e acendi meu cigarro tão logo acreditei que ninguém fosse se aboletar ao meu lado para reclamar.

Só que alguém aboletou-se. Olhei para o lado e dei de cara com uma bela moça, de pele tostada pelo sol, olhos e cabelos cor de mel e trajes que pouco deixavam à imaginação. Era linda, embora me parecesse algo familiar. E tratei de usar o artifício mais à mão que tinha para puxar papo, não poderia perder a oportunidade de travar conhecimento com uma menina tão atraente sentada logo ali, do meu lado.

- Te incomoda a fumaça do cigarro?
- Claro que não! Só me incomodo se você não me emprestar seu isqueiro.

Ótimo. Já tinha de onde partir: ela era simpática, e não teria nojinho de mim só por eu fumar. Emprestei o isqueiro, e continuei na empreitada de arranjar assunto.

- E então, voltou de viagem ou está aqui a visita?
- Voltei de viagem. Estava na casa do meu pai, em M*.
- É mesmo? Que coincidência, meu pai também mora em M* (não quis mencionar o fato de que é o pai biológico, que nunca conheci. Achei que seria falar demais pra um primeiro contato.)
- É? Que legal! Qual seu nome?
- Aline. E o seu?
- Suzana.

Epa. Eu tenho uma irmã mais velha, uma das duas filhas de meu pai biológico, chamada Suzana. Quantas coincidências!

- E quantos anos você tem, Suzana?
- 21, e você?
- 16. (epa. Minha irmã é cinco anos mais velha que eu...)
- Legal. Então você tem família em M*, é? Talvez conheça meu pai. Ele era bem conhecido lá, foi até vereador. O nome dele é JCT*.
- Ah, conheço sim.

Ai, meus deuses. É, sabia que era coincidência demais. A idade, o nome, a cidade... Não percebi porque estava encantada com a beleza da menina: o rosto me era familiar por ela ser minha irmã. O mesmo formato de olhos, o mesmo nariz reto, a mesma cara de lua cheia. Só que muito mais bem cuidada, claro. E bronzeada.

Agora ela é quem queria puxar papo. Perguntou se eu gostava do The Doors, se bebia, se topava ir na Lapa com ela no final de semana seguinte... Concordei com tudo sem pensar muito, sem conseguir falar, sabendo que a voz sairia embargada.

Estava à beira das lágrimas, literalmente, e à menor ameaça de abrir a boca eu sabia que abriria junto o berreiro. Me sentia parcialmente feliz - afinal, conhecera minha irmã mais velha! - e parcialmente culpada - afinal, minha intenção era conhecer a moça no sentido bíblico -, e não sabia como reagir. Especialmente porque ela subitamente ficou interessada. Isso ou era louca, de ficar puxando papo e chamando para sair uma completa estranha que por acaso emprestou um isqueiro.

E no final de semana, fui para a Lapa, afinal. Disposta a contar tudo a ela, sem saber direito como. "Oi, tudo bom? Desculpa se eu pareci dar em cima de você, eu sei que não rola. Sabe como é, a gente é irmã por parte de pai..." ou talvez "Sabe, eu me dei conta de mais uma coincidência entre nós. Meu pai também foi vereador de M*... E também se chama JCT*!", ou um sem número de outras formas foram exaustivamente ensaiadas, e abandonadas. Acabei por decidir simplesmente seguir o estilo Darth Vader, e dizer "No, Suzana, I'm your sister", ou algo assim.

E não a encontrei. A bem da verdade, nunca mais a vi. E por isso guardo com tanto carinho essa lembrança fraterna.

Especialmente porque, até então, eu achava que isso de se interessar por alguém e depois descobrir que esse alguém é parente seu só acontecia em novela. Hoje em dia, não duvido de mais nada!

*: Os nomes foram ocultados para proteger a identidade das pessoas envolvidas.

domingo, 23 de novembro de 2008

Eles não prestam

"Ei, gostosa! Vai ignorar? Você não gosta de rola não? Olha só, gente, ela é sapata!"

É claro, faz todo o sentido do mundo. Se preferimos ignorar um comentário chulo desses, a única explicação plausível é que não gostamos de homem. O mau gosto do que foi dito não tem relevância alguma nessa questão.

Oh, não, a "elogiada" preferir passar uma tarde inteira comendo pregos com molho de arsênico não tem nada a ver com o caso. Se fez cara feia, é porque é homossexual. Como se a opção sexual de alguém tivesse algo a ver com a situação como um todo.

Nem vou entrar no mérito do absurdo que é ouvir uma patacoada dessas em pleno século XXI. Do ridículo que é o cidadão afirmar uma coisa dessas como se fosse a pior coisa que ele poderia dizer, numa época em que a homoafetividade é tratada com tanta clareza até mesmo na mídia que costumava fazer tanto escarcéu -comparem o casal de Torre de Babel com a personagem de A Favorita, hã hã. 

Tá aí. Maldito espírito da escada. Dá vontade de olhar pra cara do sujeito e dizer, "ei, isso é o melhor que você pode fazer? Não quer dizer que minha mãe é gorda também?". Ou então, "Se você é um exemplo de homem, desculpe, mas prefiro pizza mulher".

Porque, gente, isso parece o tipo de birrinha que crianças de 8a série fariam. Juro. Aconteceu de certa vez na 8a série um menino me chamar de sapatão (é, sapatão mesmo, não lésbica, não gay: SA-PA-TÃO. E eu calço 37, hein...) só porque não quis ficar com ele. Não existe mais seletividade, é isso? É tipo, se caiu na rede é peixe? Se o cara tá me dando o privilégio da atenção dele eu devo me resignar e topar, sem livre arbítrio? Chauvinismo voltou à moda e ninguém me avisou nada?

Graças aos deuses o ônibus foi embora logo. Se a situação durasse mais, não sei o que iria fazer. Acho que perderia de vez toda a fé na humanidade.

Depois dessa, só tenho certeza de uma coisa: que saudades da menina do PUXA!

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Observando pessoas

Foi tudo que apreendi do lugar onde estava: era loira e usava rabo de cavalo. Uma miríade de presilhas multicoloridas pontuava o mar dourado, retendo as vagas mechas que insistiam em portar-se de forma mais rebelde. Nas orelhas, pequenos dragões de prata bailavam conforme os movimentos de seu corpo. Delicadas flores lilases adornavam sua nuca, indeléveis. Camiseta preta e óculos completavam o quadro do meu campo de visão: ela estava de costas para mim, ou antes, eu sentava atrás dela.

Suas mãos remexiam em uma sacola de plástico que repousava em seu colo, até produzirem um arco com orelhas de oncinha. E um rabo de oncinha. Com bolinhas em uma das pontas. A sacola tinha um logotipo, que logo entrou em meu campo de visão: provinha de uma sex shop.

Meu ponto chegou, e eu desci do ônibus. Mas nunca deixarei de me perguntar: o que leva uma pessoa a inspecionar suas compras, compras dessa natureza, dentro de um Praia do Flamengo-Lapa, às 8h15 da noite?

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Redenção

Ó chuva
Caia sobre este rosto pálido
Cálido das lágrimas que não pode verter.

As lágrimas celestiais
Purificam o mundo nublado
Que tornem-me pura também!

Que purifiquem minha alma
E lavem estas lágrimas
Que mancham meus olhos, lábios e gestos.

Até que as névoas do dia cinzento
Dissolvam-se em um mar de luz
Que inunde as ruas: o dia está lindo.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Love Story

No entrecruzar de olhares, um sorriso tímido que julgava entregar seus sentimentos, mas que, na verdade, era interpretado como mera simpatia.

No meio do tumulto, um abraço recebido com estranhamento, um abraço que fugiu totalmente ao padrão. Um abraço desejado, ainda que não soubessem.

Lábios de pétalas de rosa abrem-se em um sorriso antes apenas imaginado. Uma conversa. Uma conversa havia muito esperada, uma conversa que precisou de toda a coragem do mundo.

E o dia chegou e as nuvens foram embora.

As mãos se buscam, quase que por instinto. Um abraço, já sem tanto estranhamento. Ternura. Fugas.

E, assim, o que antes era "impossível" agora é "para sempre". E ainda não é desta que a morte as separará.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

No escurinho do cinema...

Nada mais clichê que ir ao cinema com namorado ou paquera. 

Um amigo meu ocasionalmente me aborda, todo empolgado, para contar que vai ao cinema no dia tal com fulana, sendo fulana a paquerinha da vez. Poxa, que bom! E qual a grande novidade por trás dessa notícia?  Mas essa é a novidade. É? Então tá.

Particularmente, nunca gostei muito de ir ao cinema acompanhada, por quem quer que fosse. Principalmente não namorados ou rolos. Gosto de prestar atenção nos filmes e, do jeito que os ingressos andam caros, me sinto lesada caso não consiga fazê-lo. Como tenho o attention span de uma samambaia plástica, amigos tendem a me distrair. E paqueras ou namoros-em-fase-inicial tendem a alterar o foco de atenção,  ainda que por excelentes motivos, de forma ainda mais incisiva e profunda, trocadilhos à parte. 

Sempre me perguntei porque tamanha empolgação em ir ao cinema com seus parceiros. Tudo bem, é escurinho. OK, as outras pessoas têm mais no que prestar atenção. Mas ainda é um local relativamente público, e gente fofoqueira existe em todo lugar. Especialmente quando a gente não quer.

Por tudo isso, me surpreendi quando me vi ansiosa por ir ao cinema pela primeira vez com minha "pessoa especial". Mesmo temendo não conseguir assistir o filme direito - para piorar, iríamos com amigos - não cheguei a me importar muito. Confiei nela, confiei em mim, e não me decepcionei. Nem me arrependi.

Com toda a minha amargura de cinéfila, tinha me esquecido do quão agradável pode ser asssitir um filme no cinema bem agarradinha. E, agora que lembrei, espero nunca mais esquecer de novo - é o tipo de coisa que merece ser feita sempre que possível.

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Canção da Discórdia

Bem que eu queria poder postar a letra de uma bela canção de amor aqui hoje. Mas, como não cheguei a tomar parte do processo criativo propriamente dito, receio que não seja direito meu postar aqui qualquer coisa que tenha relação com tal obra de arte.

Gostaria de deixar bem claro que não foi por falta de vontade que não mereci ter minha assinatura junto à da outra autora da canção. É que não me pareceu certo me intrometer no talento astronômico de terceiros. Afinal, sou uma reles aprendiz; é injusto esperar que grandes escritoras desacelerem seu raciocínio apenas para me dar a oportunidade de acompanhar as idéias. Tola que sou, me atrevi a acreditar que seria necessário discutir para chegar a conclusões óbvias, como "dor rima com amor", "saudade rima com vontade", entre outros chavões tão exaustivamente repetidos do cancioneiro romântico popular brasileiro. Até mesmo ousei crer que minha opinião poderia ser de alguma valia.

Felizmente soube manter minha humildade e parei de insistir. Afinal, ainda estou muito longe de poder me considerar uma boa escritora: a estrada ainda é muito longa, mal comecei e ainda tenho muito o que aprender. Seria óbvio esperar que escritoras de tão grande talento e carreiras tão longas não precisassem de minha ajuda. Eu apenas ensombrearia o brilho que não me pertence, nem nunca pertencerá.

É preciso conhecer seu lugar, afinal.

De toda sorte, aproveito ainda para me prontificar a engolir meu aparentemente enorme ego e compor, em dupla com alguma outra pessoa, essa tal canção apaixonada. Mas, por favor, designem-me um parceiro de nível similar ao meu. Porque não sei se aguento a emoção de novamente compor junto a alguém de incomensurável talento e incomparável humildade.

[/ironia]

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Improvements

Uma das coisas que sempre me encantou em ensinar é poder acompanhar a evolução dos alunos. Desde que eu comecei a dar aulas particulares, achava lindo quando comparava o desempenho da pessoa no primeiro dia de aula e o dos últimos dias e constatava a melhora. Acho que é por isso que eu insisti nessa idéia - a princípio louca, já que sou extremamente tímida - de ser professora.

Eu ainda não tinha sentido isso aqui no meu trabalho. Poucos alunos tiveram aula comigo mais de uma vez, e, os que tiveram, raramente demonstravam grandes improvements de uma aula pra outra. Nesses casos, costumava ser mais reposição. Claro que eu tenho uma ou duas alunas "de estimação", mas não é a mesma coisa.

Agora eu posso me considerar realizada no meu trabalho. Logo na minha primeira semana, peguei uma aluna meio problemática para dar reposição. E uma das primeiras coisas que ela me disse foi, "odeio inglês e só estudo por obrigação". Pensando nisso agora, me foi impossível não lembrar da discussão pós-"Escritores da Liberdade", quando tia Eliana falou da frustração de ouvir de um aluno dizer, "não gosto disso!". Na hora em que ela me disse isso, me deu um aperto no peito, porque senti que ia ter dificuldades.

Então, recentemente, essa mesma aluna marcou outra monitoria, igualmente para reposição. E, para minha surpresa, ela disse que adorou a aula. E, de fato, a aula foi excelente, modéstia à parte. Duas horas voaram como se fossem vinte minutos. E marcou a próxima, para hoje, não porque precisasse de reposição, mas porque estava achando divertido aprender. E, na aula de hoje, novamente o tempo voou. E marcamos uma próxima. E ela me disse que está começando a tomar gosto por essa história de aprender inglês. E o melhor é notar que, de fato, ela está aprendendo.

Em todas as entrevistas de emprego que fiz em cursos de inglês, uma das últimas perguntas sempre foi "Why do you want to teach english?'. E a resposta, invariavelmente, era "Because I'd like to help people improve themselves". E agora eu sei que era a resposta mais certa que eu poderia dar. Porque a sensação é ótima.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Chachipén*

E a porta do ônibus se abriu, e dele desceram cinco ciganas, completamente paramentadas.

Uma delas se aproximou, tomou minha mão e, olhando bem fundo nos meus olhos, me perguntou se eu gostaria de saber o que o destino me reserva. Agradeci a oferta, mas me senti compelida a recusar. Que graça teria saber de antemão o script da minha vida?





*: Segundo fontes não muito confiáveis, chachipén significa "verdade" em Romani, a língua cigana.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Pessoas estranhas

Adoro gente estranha. Gente estranha inspira, instiga, provoca as idéias que, de outra forma, correriam desarrazoadas por aí, afobadas e mal comportadas que são. Às vezes, é um trejeito, um tique nervoso que transparece sem que o observado se dê conta. De outras, é difícil precisar o que me desperta a atenção, mas sinto que há algo ali que valha a pena.

Ela usava camisa branca e calças pretas, mas seus contrastes não paravam por aí. Os pés descalços pareciam inchados, talvez por causa dos enormes saltos, que jaziam abandonados ao lado do banco em que estava sentada. Falava ao telefone e gargalhava, mas o riso morria em seus lábios - seus olhos permaneciam sérios, até mesmo marejados. Era uma menina chuvosa em um dia ensolarado. Ria, e mexia na barra da calça. Ria, e roía as unhas. Ria, mas era nítido que queria chorar.

Estava sentada como se no sofá de sua casa. Tão à vontade que, em dado momento, jogou-se para trás e deitou. Os cabelos louros, antes arremessados em seu rosto, agora espalhavam-se amarelados pelo banco amarelo da faculdade.

Parecia tão indefesa, tão carente de afeto, que me deu vontade de me aproximar para ouvir o que dizia. Não tive coragem. Temi que se afastasse, me achando estranha demais para merecer sua atenção.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Olhares

Me olhou com olhos de carência e pediu-me que fizesse algo que, sinceramente, eu não estava muito disposta a fazer, mas não pude dizer não. Recolhi minhas coisas e fui atender seu pedido, ainda que receosa. Me sentia constrangida, envergonhada, tímida. Era algo que eu estava acostumada a fazer, desde muito cedo, mas não com três pessoas ao mesmo tempo. Ainda mais três mulheres, aliás, três meninas, tão jovens.
Três pares de olhos me encaravam ansiosos. Não sabia o que fazer, não conhecia suas expectativas, não estava preparada. Permiti que guiassem o momento. Os olhares me seguiam, tão perdidos quanto os meus. Elas não queriam tomar o controle. Elas esperavam que eu as levasse, que eu ensinasse, que eu dissesse o que fazer. As rédeas da situação teimavam em fugir ao meu controle, e seus olhares tornavam-se reprobatórios, à medida em que o meu esquivava-se.
Conversamos um pouco. Olhos risonhos, quando o diálogo começou a fluir. Conversamos sobre muitas coisas: o dia-a-dia, namorados, livros, música, piadas. Ficamos à vontade, rimos, nos divertimos. Meu olhar não mais desviava dos delas. Senti confiança. Me senti segura. Dei a elas o que queriam, e elas quiseram mais, mas nosso tempo acabou. Ficou para a próxima.
Depois, encontrei-me com Michael, que me perguntou como foi a aula. "We just couldn't stop laughing", eu disse. Ele me olhou com interrogações nos olhos. Eu devolvi um olhar misterioso. As alunas passaram pela janela do RC e acenaram. "It was good, then. I guess.", ele disse. Também acho, teacher. Foi uma aula divertida. Mas, nem que me paguem o dobro do salário eu repito a dose semana que vem.

sábado, 1 de novembro de 2008

Diálogos insólitos 2

- Nossa, a sua é enorme!
- É porque você não viu o tamanho da minha.
- Vocês querem que eu me retire?
- Não precisa, a gente vai ali pra varanda...
- Não.
- Pro banheiro? Ou, sei lá, seu irmão tá em casa? A gente pode usar o quarto dele...
- ... você trouxe o notebook pra eu te mostrar o tamanho da minha?
- Ué, mas só funciona pelo computador é?
- Claro!
- Me mostra pela webcam depois, então!
- Webcam pra mostrar a lista do MSN? Tá maluco?!

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Halloween Y! 2008

Eu sabia que essa festa não ia dar o que prestasse.

Tudo bem, admito que foi bem mais movimentada do que eu esperava - a varandinha estava quase lotada, nem tinha onde sentar. Considerando-se que não esperávamos que aparecesse mais que meia dúzia de gatos pingados, sob esse aspecto pode-se dizer que a festa foi um sucesso.

E, bem, foi divertido quando uma aluna olhou para mim, pegou a ponta da minha saia e comentou, alegremente, "Nossa pró, você fica bonita disfarçada de mulher!". Acho que ela estava acostumada demais às minhas calças largas e casacos xadrezes para achar normal me ver de saia, decote e batom.

Mas eu sou purista, e esse é que é o problema.

Festa de halloween, pra mim, tem que ter clima. Tem que ter pessoas vestidas a caráter - fantasiadas ou de roupas escuras. Tem que haver um mínimo de preocupação com o estilo da parte dos convidados. Tem que ter uma trilha sonora coerente com o evento - afinal, é All Hallow's Eve, e os espíritos estão à solta. Não é qualquer porcaria que pode tocar.

Por isso fiquei tão frustrada com o halloween do curso onde trabalho. Porque é minha festa preferida do ano - a única onde ainda tenho uma remota esperança de poder me divertir sem ter que aturar coisas particularmente baixo-astral - e, assim sendo, a última coisa que eu esperava era encontrar carinhas de chinelo e camisa de time, e ouvir pérolas de tati quebra-barraco (tudo minúsculo mesmo, para realçar meu desprezo) e o créu.

Isso mesmo. Créu. E queriam que eu dançasse, como punição por ter chegado mais de duas horas depois do início da festa.

Aleguei que minha religião não permitia que eu dançasse tais baixarias. Considerando-se que um dos preceitos da minha religião é o respeito absoluto por tudo que vive, incluindo a si próprio, não menti em momento algum. O inferno congelará antes que alguém me veja rebolando até o chão sóbria e por livre e espontânea vontade.

Aproveitei a euforia geral com uma aluna que, essa sim, requebrava-se e contorcia-se como se sentisse cólicas tremendas sem o menor pudor, e saí de fininho pela escada externa.

Em casa, acendi um incenso e coloquei The Crüxshadows pra tocar. That's more like it. Halloween organizado por pessoas "externas", nunca mais.

P.S.: On a completely unrelated note, quando fui logar no blogger pra postar esse texto, em vez de "oficina" digitei "orificina". Ando pensando em besteiras demais. Isso ainda vai render um post aqui...

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Escolhas

É como num daqueles livros de RPG, "aventura solo", que de roleplay não tem nada. A cada página, é uma nova decisão que pode alterar completamente seu destino. E, muitas vezes, essas decisões são tomadas de forma tão leviana que, quando seu impacto finalmente recai sobre nós, é como levar um tiro pelas costas. Mas não é pelas costas, nós é que não nos apercebemos das conseqüências de nossos atos.

É quando você decide que quer comer queijo quente em vez de hamburguer. É abrir mão de um programa com os amigos pra ficar em casa jogando videogame. É um dia em que você resolve simplesmente acordar mais cedo e ficar no computador. É quando você cansa de engolir suas palavras e deixa tudo fluir antes de se dar conta do que está fazendo.

É a dor. Se a palavra é mais afiada que a espada, é um suicídio.

É a morte, lenta, que se aproxima sem dar sinais. É a velha conhecida tristeza, que toma conta de tudo, leva tudo embora e deixa um vazio imenso no lugar. É a paixão, a desgraçada paixão, que nubla os pensamentos. São as máscaras que caem. São as muitas máscaras que tentam se impor, num equilíbrio precário, prestes a desabar.

São as lágrimas, que caem uma por uma, deixando um rastro úmido e amargo por onde passam. É a vida.

domingo, 26 de outubro de 2008

O que é lixo pra uns...

Ele era um habilíssimo músico, a alegria de todas as serestas, o preferido de todas as nove musas. Até o dia em que não conseguiu compor mais nada. Sentindo-se traído por suas protetoras, arremessou seu instrumento no lixo, disposto a mudar completamente de vida. Estava acabado.

Ou

Acreditava que, do jeito que era, nunca conseguiria uma namorada. Garotas gostam de rapazes sensíveis, ele ouviu dizer. Comprou um instrumento musical, nada demonstra mais sensibilidade que um bom instrumento bem tocado. Esforçou-se o quanto pôde, mas nunca foi capaz de realmente apreender a alma daquilo. Frustrado, esqueceu sua companheira musical em uma gaveta e dedicou-se a outras artes. Mudou-se, e deixou para trás não apenas seu endereço, como também a flauta. O novo morador não tinha o que fazer com aquilo, e decidiu livrar-se das quinquilharias do antigo habitante da casa.

Ou

Ela sempre foi muito inquieta e tagarela, e, por isso, sua mãe decidiu dar-lhe algo com o que ocupar a boca. Não tomou gosto pela coisa - preferia falar a soprar - e, por isso, o presente materno foi abandonado às traças. Como ninguém mais se interessasse, este acabou se misturando às tralhas e sendo posto à rua.

Nunca saberei o que realmente aconteceu. Mas, quando vi aquela pobre flauta perdida na sarjeta, senti que havia uma história por trás. Juro que, se não tivesse nojinho do resto das coisas que estavam com ela, adotava. Imagine o que ela não teria para contar!

sábado, 25 de outubro de 2008

Diálogos insólitos (ou "Velha Surda Strikes Back")

- Você tá vestida de grunge gótica hoje.
- Er, grunge eu até entendo, por causa do casaco xadrez... mas gótica, aonde?
- A camisa do Evanescence, oras! Evanescence é gótico!
- Ah, claro... Nightwish também, né? *ar de ironia*
- É, e... e... como era o nome?
- ... Vamos?
- Não, vamos não é gótico não... como era mesmo?
- Wando? Claro que Wando não é gótico.
- É, Wando é metal!

Kombi

Poucas coisas nesse mundo são mais românticas que namorar no banco do motorista de uma kombi no estacionamento do Habib's. E era isso mesmo que o casal fazia, despreocupado com a vida, numa noite de sábado. Ele, com o que a gente no sudeste costuma chamar de típico bigodão de porteiro nível épico. Ela, quase indistinguível, arremessada lânguidamente sobre o colo do parceiro.

Não quis acreditar quando me disseram. Tive que conferir por mim mesma, e lá fui eu, controlando a crise de riso iminente, passar do lado da janela do motorista. Foi uma breve passagem, mas o suficiente para ouvir, em uma voz sussurrante:

- Amigo... vá com calma que sou casada.

Acho que preciso ir mais vezes ao Habib's.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Mais causos do RC...

E aí teacher Andréia entra na sala. Toda de preto, de capa, com luvas de borracha e um machado de plástico na mão.

- Have you already died today, Dee?
- Not yet, at least not the last time I checked. I thought halloween was not until a couple of weeks from now, though. Gotta love your costume.
- Thanks. Today is my kill-people day, so beware.

Tem morceguinhos colados em todas as janelas do curso, menos na minha, que tem fantasminhas e abóboras, e na da diretora, que tem bruxinhas. A parte boa de ser pagã e trabalhar em um curso de inglês é não ter que suar a camisa para conseguir folga no Beltane alegando ser feriado religioso. A parte ruim é ter que fugir das comemorações de Halloween. Especialmente quando a proposta para esse ano é um luau havaiano. Gosto da idéia de comemorar os ritos de fertilidade na praia, ao redor de uma fogueira, mas não com meus workmates, e não com essa temática.

Mas, ainda assim, é divertido. As coisas estão meio que em ritmo de fim de semestre aqui. Poucas monitorias agendadas, salas de aula vazias, enfim, tudo anda tranquilo. E isso me entedia profundamente. =/

Doida pra ir pra casa.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Algumas frases...

...só pra constar:

"Se toda a vida complexa de muita gente se desenrola inconscientemente, então é como se esta vida não tivesse sido." (Tirei do texto de Chklovski, haha. Concordo em todos os aspectos.)

"Education is an admirable thing, but it is well to remember from time to time that nothing that is worth knowing can be taught." (Oscar Wilde. Concordo em termos, mas adorei a construção.)

"A world fit for children is a world fit for everyone." (Não faço idéia de quem é o autor. Copiei do livro de uma aluna aqui no trabalho dia desses. Tenho pavor de crianças, mas não tem como não concordar plenamente com isso.)

domingo, 19 de outubro de 2008

Puxa!

Elas andavam pela rua, de mãos dadas apesar do medo. Tem muita gente má nesse mundo, muito preconceito, vai saber o que poderiam fazer.

Uma menina atravessou a rua correndo e passou do lado. Elas mal registraram a informação, entretidas no seu próprio mundinho. A vida é complicada e incerta e, pelo menos ali, naquele momento, tudo parecia simples e tranqüilo demais para se prestar atenção no resto do mundo.

A menina deu meia-volta e as abordou, com um sorriso de orelha a orelha.

- PUXA!

Assustadas, as duas pararam, soltaram-se as mãos, preparadas para a guerra, prontas para alguma crítica. Sabia, pensaram as duas, não devíamos nos expor, as pessoas não entendem, o mundo é injusto...

- Deixa eu dar os parabéns! - e as abraçou - Amei a atitude!

Voltou-se e saiu saltitante. Elas entreolharam-se.

- Amiga sua?

- Ué, achei que você que conhecesse.

Sorriram, meio sem jeito. As mãos voltaram a se unir, agora com mais segurança. Beijaram-se, no meio da rua, sem se importar muito com a opinião alheia, sem mais medo. A humanidade ainda tem salvação. 

Impressionante como um simples "puxa!" pode dar tanta coragem.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

New Order - Bizarre Love Triangle

Every time I think of you
I get a shot right through into a bolt of blue
It's no problem of mine but it's a problem I find
Living a life that I can't leave behind
There's no sense in telling me
The wisdom of a fool won't set you free
But that's the way that it goes
And it's what nobody knows
And every day my confusion grows
Every time I see you falling
I get down on my knees and pray
I'm waiting for that final moment
You'll say the words that I can't say

I feel fine and I feel good
I feel like I never should
Whenever I get this way, I just don't know what to say
Why can't we be ourselves like we were yesterday
I'm not sure what this could mean
I don't think you're what you seem
I do admit to myself
That if I hurt someone else
Then we'd never see just what we're meant to be
Every time I see you falling
I get down on my knees and pray
I'm waiting for that final moment
You'll say the words that I can't say

Coisas demais acontecendo - incluindo provas - me impediram de pensar em algo bom pra postar. Enquanto isso, fiquem com uma musiquinha /o/

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Enquanto isso, no RC...

Cenário: Resource Center, maneira metida de dizer "biblioteca/sala de informática/sala de monitoria", também conhecida como "sala da Dee".
Personagens: 3 guris, Dee e Michael, o único professor que praticamente não fala português de todo o curso.

Ato I

Guri de boné: Teacher Michael, posso usar esse PC?
Michael: Oh crap, don't you guys know you can't play here?
Guri aleatório: Quê?
Michael: ... Aline?
[Dee de fones de ouvido, fingindo que está ouvindo música alto e estudando Linguística porque não quer se meter, achando divertidíssimo alguém mais além dela dar bronca na gurizada]
Michael: OK. Vou falarr um vez só. Vocês can't jogar aqui on RC. These PCs are para fazer the House. The RC is not seu playground. Porrque you não procurar something else pra fazer?
[Guris ficam morrendo de vergonha. Dee segura o riso pra disfarçar, mas Michael percebe e dá uma piscadela de quem entende porque ela se manteve deliberadamente de fora.]

Ato II
Alguns minutos depois. Guri de cabelão entra. Guri de boné saca um pacote de bolachas da mochila.

Dee: Não pode comer no RC.
Guri de boné: Pode deixar, não vou comer não.
[Guri de boné enfia uma bolacha na boca]

Dee: Mas eu não acabei de dizer que não é pra comer no RC? Depois o teclado enche de migalha e quem vai ter que limpar sou eu!
Guri de boné: Mas eu não tô comendo!
Dee: Ah, claro que não. Você só está tirando uma bolacha do pacote, botando na boca e mastigando. Eu que sou implicante, e fico dizendo que isso é comer só pra ter motivo pra te dar bronca... Falando em bronca, pode fechar o site de joguinho que também é proibido, viu?
Guri de cabelão: Mas por que não pode jogar?
Dee: Porque estes PCs são pros alunos fazerem a House. Não pras crianças se entreterem quando seus pais se atrasam e esquecem delas aqui e elas não têm mais nada pra fazer e... olha, quer saber? Fiquei com pena, eu também morreria de tédio se tivesse que passar sei lá quantas horas esperando alguém vir me buscar. Joguem aí. Só não baixem nada, não cliquem em nada suspeito e, pelamordedeus, se o Coordenador ou a Diretora chegarem, fechem o jogo mais rápido que se tentassem falar "The book is on the table", ok?
Guris: OK, teacher!
Dee: Mas então, que jogo é esse? Sério? Nossa, esse eu não conhecia! Tá, depois você me ensina a jogar, agora eu vou voltar pra minha mesa que preciso estudar, tenho prova essa semana. Se chegar alguém querendo usar a House, vocês prometem que liberam um PC pra pessoa? Posso confiar em vocês? Então tá bom.

[Dee volta pra mesa. Entra Michael.]
Michael: GUYS! O que I acabar de say? You não have respeito pelas rules! These are the rules of this place! Rules são made parra be followed!
[Guris se assustam e saem correndo. Toca uma buzina; é a carona deles. Vão embora do curso.]

Michael: Heh, heh, heh... I'm being particularly mean today, ain't I?
Dee: Just a bit, haha.
Michael: Yeah, just a bit... Hahaha

[FIM]


Peça também conhecida como "mais um dia perfeitamente comum e normal no trabalho da Dee". Por isso que, mesmo reclamando tanto, eu insisto em dizer que adoro meu trabalho... =P

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Aniversário

Eu vi o pior dia da minha vida quase se repetir, e só fui reparar muito depois.

Foi um domingo, dia das crianças, muito bem aproveitado na frente do computador. A idéia era estudar, mas uma pessoa especial me convenceu a abandonar essa idéia besta. E ficamos conversando, por horas a fio, enquanto a pessoa que, para mim, era a representação mais fiel do que viria a ser família - um conceito que, trocadilhos à parte, nunca me foi dos mais familiares -, murchava ao meu lado, por puro medo de me perder para sempre.

À noite, foi difícil dormir. Sons de tosse e de nítida dificuldade para respirar - ah, malditos pulmões frágeis! - tornavam o sono de minha "família", resumida a uma pessoa, extremamente inquieto. E, claro, não me deixavam descansar. Até que se fez o silêncio, e enfim pude dormir.

Felizmente, dessa vez a calmaria não foi o prenúncio de uma tragédia irreversível. Desta vez, foi só uma crise de asma. Desta vez, não perdi ninguém. Mas foi impossível não associar com outra madrugada do dia 12 pro dia 13, de domingo pra segunda, de um outro longínquo outubro que, graças aos deuses, não volta nunca mais.

Cinco anos passam num piscar de olhos. Mas as saudades, as cicatrizes, as feridas abertas... Ah, essas ficam. Eternamente. Afinal, esteja presente ou não, mãe sempre vai ser mãe. E a minha ainda está comigo, mesmo que só em pensamento, mesmo que só no coração.

domingo, 12 de outubro de 2008

Meu maior medo é nunca mais sentir medo.

Pois eu insisto em concordar com Roosevelt, quando ele diz que se deve, todos os dias, fazer aquilo de que se tem medo. De preferência, em momentos de tensão. E que se danem as mãos que se recusam a parar de tremer, o coração que esquece que deve seguir um ritmo pré-estabelecido para continuar funcionando - em vez de disparar feito um louco ou congelar de vez -, as maçãs do rosto que se aquecem e adquirem uma coloração totalmente diversa da habitual, e a vontade de se enfiar debaixo da cama e não sair de lá nunca mais.

Medo também é pathos. E já dissemos antes: o pathos é o que faz com que nos sintamos vivos. E Platão que se exploda, com toda sua frieza, sua pureza, sua perfeição utópica.

Não vou dizer que não seja um processo doloroso. É, e muito, especialmente se demorar muito tempo para juntar a coragem necessária para encarar o bendito de frente. Mas dói menos que se recolher, dia após dia, chorando com medo do medo. Este é, aliás, o pior dos medos: o medo de temer, o medo de ousar superar os temores.

Mas, uma vez que se consegue... As recompensas podem vir de diversas formas: mal-entendidos solucionados, um texto particularmente ousado e bem aceito, uma afirmação inesperada e inebriante.

Não tenha medo de chorar em público; não tenha medo de dizer que gosta de alguém; não tenha medo de provocar seus sentimentos e de, possivelmente, quebrar a cara em algum ponto do caminho. Não tenha medo de dizer que errou. Não tenha medo de acertar.

Mas, que fique bem claro: ainda tenho todo o respeito por medos de altura, baratas, palhaços, escuro, aranhas e fantasmas. Porque sem esses medinhos estúpidos - e freqüentemente irracionais -, que material teríamos para implicar com nossos amigos?

sábado, 11 de outubro de 2008

Idéias Íntimas (fragmento)

Ossian o bardo é triste como a sombra
Que seus cantos povoa. O Lamartine
É monótono e belo como a noite,
Como a lua no mar e o som das ondas
Mas pranteia uma eterna monodia,
Tem na lira do gênio uma só corda,
Fibra de amor e Deus que um sopro agita:
Se desmaia de amor a Deus se volta,
Se pranteia por Deus de amor suspira.
Basta de Shakespeare. Vem tu agora,
Fantástico alemão, poeta ardente
Que ilumina o clarão das gotas pálidas
Do nobre Johannisberg! Nos teus romances
Meu coração deleita-se... Contudo
Parece-me que vou perdendo o gosto,
Vou ficando blasé, passeio os dias
Pelo meu corredor, sem companheiro,
Sem ler, nem poetar. Vivo fumando.
Minha casa não tem menores névoas
Que as deste céu d'inverno... Solitário
Passo as noites aqui e os dias longos;
Dei-me agora ao charuto em corpo e alma;
Debalde ali de um canto um beijo implora,
Como a beleza que o Sultão despreza,
Meu cachimbo alemão abandonado!
Não passeio a cavalo e não namoro;
Odeio o lansquenê... Palavra d'honra:
Se assim me continuam por dois meses
Os diabos azuis nos frouxos membros,
Dou na Praia Vermelha ou no Parnaso.

(AZEVEDO, Álvares de IN: Poemas Malditos)

Ei, eu avisei que gostava de poesia "frufru".

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Com licença, posso te dar uma cantada?

Sei que não é algo muito bonito de se dizer sobre si mesmo, mas tenho que admitir: sou fascinada por cantadas prontas.

Sempre me diverti horrores, fuçando a internet atrás dessas preciosidades de humor nem sempre voluntário. Não me importa se é das bonitinhas (Me dá o número da sua mãe? Preciso ligar para ela e agradecer por você existir) ou das mais vulgares (Belas pernas, que horas elas abrem?), o processo era invariável: ler, rir e me perguntar qual seria a reação das pessoas caso alguém tivesse a ousadia de botá-las em prática.

Foi aí que resolvi eu mesma ser a ousada. Desde então, a maioria de meus amigos (e amigas, é muito engraçado fazer isso com amigas) virou cobaia dessa experiência social meio inútil. Algumas amigas até se habituaram a ser cumprimentadas com um já clássico "oi, tá vendo aquele coqueiro? Imagina se cai um coco, rola ou não?". Tornou-se quase uma característica minha. Ah, a Dee, a doida das cantadas toscas? Ah, tá, conheço sim.

E é por isso - e porque as ideiazinhas se recusam a se comportar, correndo pra tudo que é lado e brincando de esconde-esconde, e pela Nanda ter me considerado uma expert em cantadas e relacionamentos hoje mais cedo - que decidi fazer um top 5 especial, voltado para os poucos rapazes que vêm visitar este blog, de cantadas que não se deve, EM HIPÓTESE ALGUMA, utilizar quando você realmente tem a intenção de se dar bem com aquela mocinha (ou, bem, mocinho. Vai saber...). A não ser que ela (ou ele) seja extremamente bem humorado. Ou que sua intenção seja fazer a pessoa rir.

Bem, sem mais delongas, aí vão elas:

5 - Você é tão quente que chega a derreter o plástico da minha cueca.

4 - Eu gosto de cada osso em seu corpo, especialmente o meu.

3 - Vou te chupar tão forte que você vai ter que tirar os lencóis da sua bunda quando eu terminar.

2 - - Oi, sabe porque é bem melhor se masturbar com esses dois dedos? (levantando quaisquer dois dedos)
- Não, por quê?
- Porque eles são meus.

1 - Ô gatinha, tá a fim de ganhar 50 conto fácil?

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Kibes

Nesse mundo em que vivemos, faz-se qualquer coisa por um kibe. Até sair de casa de novo, oito e meia da noite, depois de um dia exaustivo. Achei que o cansaço houvesse me derrotado; a necessidade de um jantar me tirou, ainda que temporariamente, o peso dos ombros. E, na esquina da rua da lanchonete, eu vi o carro.

Vinha a toda pela rua. Parou na esquina mal iluminada, cantando os pneus, e de dentro dele saiu um homem, os olhos brilhando furiosamente com determinação. Bateu a porta, deu alguns passos até a esquina oposta, uma mão na cintura e a outra dando aquela ajeitadinha. Aliás, o que os homens tanto têm que ajeitar?, pensei. Será que as coisas não sabem se comportar sozinhas?

Chegou até a entrada do condomínio. Eu estava apreensiva. É um assaltante? Vai cobrar uma dívida de honra com um dos moradores? Olha, do jeito que ele não tira a mão do bolso, não é possível que ele esteja só se ajeitando. Aposto como vai sair uma espada dali. Como assim, não cabe uma espada? Claro que cabe, se o bolso for furado e ele não dobrar os joelhos. Não me importa que ele está andando normal, dobrando os joelhos e tudo, Cris, me deixa prestar atenção, estou sentindo cheiro de sangue no ar e isso ainda vai dar uma boa crônica.

Não, espere, ele está indo na direção do poste. Seria possível que ele iria fazer suas necessidades logo ali, no meio da rua, nem nove horas da noite ainda? Mas é muita falta de educação! Não, não grite "mijão". Não me envergonhe!

Sem tirar as mãos da frente de seu corpo, ele se posicionou do lado do poste. O que se faz numa situação dessas? Faz de conta que não viu nada? Fica por perto e começa a torcer, em voz alta, só pra deixar o mal-educado constrangido? Informa delicadamente que havia uma lanchonete a menos de dez passos e que, se ele pudesse se aguentar mais um pouco, poderia fazer isso num banheiro, com toda a privacidade do mundo? Senta no chão e ri da cara do sujeito?

Então ele bateu palmas e chamou o segurança, com quem começou a conversar. Perdi o interesse. Meu estômago me lembrou que não comia nada desde o almoço corrido antes do trabalho, e fomos providenciar os kibes.

Droga de noite sem graça.

terça-feira, 30 de setembro de 2008

"Todos os dias, faça algo que lhe dá medo"

...já dizia Roosevelt. E eu tô fazendo, tio! Aliás, nem é qualquer coisa que me amedronte - é só a coisa que mais me dá medo no mundo, de todas as coisas que me amedrontam (a lista vai de Altura a Zarolhos, mas não contem pra ninguém)

Mas e a parte de lidar com o medo, faz como? Senta e chora?

Porque mandar a galera deixar de ser viadinha e encarar o mundo, os seus problemas e seus bloqueios de frente é muito fácil, dar dicas de como fazer isso é que ninguém dá. Sabia que não devia seguir os conselhos de um ex-presidente americano. Minha mãe costumava dizer que isso dá azar...

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Um milhão de coisas para fazer e nenhuma vontade.
Duzentos kilos de textos para ler e nenhuma concentração.
10 unhas para lixar e pintar e preguiça de pegar o esmalte.
Um favor para fazer para a avó mas falta de saco de abrir o site.
Sono, muito sono. Mas não consigo dormir tranqüila sabendo que há tanto a fazer.

Hoje é meu dia livre. Hoje é meu dia de preguiça. E, com tanto tempo nas mãos, não tenho idéia do que fazer, nem paciência para as coisas que preciso resolver.

Passei a semana inteira reclamando que queria férias, e que cansei de brincar de ser estudante e trabalhadora simultâneamente. Agora, estou sentindo falta do trabalho. Não consigo mais me concentrar sem ter uma horda de crianças circulando pela minha sala, sem tremer de frio por causa do ar condicionado forte, sem ter que parar a cada cinco minutos pra adiantar coisas pro meu chefe.

Socorro! Acho que virei workaholic.

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Solitude

No dia em que minha vida se acabou, havia tantas nuvens que não se enxergava o céu. Era um teto cinzento, sem falhas, homogêneo. Parecia que o sol, ciente do que estava por acontecer, se recusou a mostrar sua face, por receio de derramar lágrimas e competir com a garoa fina que caía sobre a cidade.

Órfão muito cedo, sempre fui rejeitado pelas outras crianças. Sabe como elas são: ávidas pelo breve prazer de desmerecer tudo aquilo que é diferente do que estão acostumadas. E, não tendo uma mamãe nem um papai, eu era um prato cheio para suas implicâncias e pequenas crueldades. Crianças são criaturinhas malignas; em toda sua inocência, elas são as que melhor sabem onde enfiar um alfinete para que a dor seja maior. Logo aprendi a não confiar em ninguém.

Por isso, cresci sem amigos. Sempre tive medo dos seres humanos. Sempre tive medo da rejeição. E sempre tive medo da solidão, por contraditório que possa parecer. E assim, eu andava sozinho na cidade. Era tudo brilhante, colorido, cheio de vida; eu só enxergava o cinza do céu, as lentes dos óculos embaçadas e úmidas.

Através da névoa que só cobria meus olhos, eu a vi. Era um broto de rosa, em todo seu viço, perdido na aridez do deserto, do meu deserto particular. Era bela, mas de uma beleza distante, insensível, era uma rainha de gelo. E por sentir nela uma cumplicidade que nunca encontrei em nenhum outro ser humano, ignorei meus instintos de lobo solitário e tentei me aproximar.

Talvez fosse destino; talvez ela só estivesse entediada, e eu aparentasse ser uma boa maneira de passar o tempo. Mas consegui, por fim, ultrapassar a barreira de indiferença que ela ostentava, e, pela primeira vez, pude chamar alguém de "amigo". Nos tornamos muito próximos em muito pouco tempo, éramos quase que indivisíveis: nos completávamos, tão diferentes um do outro, tão iguais. A frieza era só no exterior: Marie, esse era seu nome, era de doçura inebriante, e sua alegria de viver contagiaria até mesmo o robô depressivo de um filme a que assistimos juntos. Eu me contentava em admirar, embevecido, esperando algum dia conseguir ser assim.

A admiração tornou-se algo mais forte. Fiquei confuso, perdido, nunca sentira aquilo e não sabia como lidar. A vontade era de fugir, de escapar daqueles olhos penetrantes que pareciam rir das minhas ilusões românticas. Mas algo me prendia, e acabei por me deixar ficar. Nunca tive coragem de me abrir. Medo, muito medo de que ela, espantada por tanta intensidade vir de mim, se afastasse e me deixasse sozinho novamente. Levei tempo demais para demolir meus muros; não queria que tivesse sido à toa.

Um dia, passeávamos juntos por um parque. Ela contava uma de suas histórias, ela tinha milhares de histórias para contar. Eu sempre ficava ouvindo, feliz só de gravitar ao redor dela. De repente, não sei como nem porque, ela olhou para mim. Era uma sonda vasculhando até o fundo de minha alma, era um buraco negro que me engolia, era algo de inenarrável. Vi passar uma sombra pelo olhar, antes tão cristalino. Soube que seria desmascarado.

Reencontrei minha velha conhecida, a rejeição. Tentei consertar as coisas, mas Marie achou por bem nos afastarmos, antes que acabasse por me magoar. Como se a separação não fosse a maior mágoa...!

Assim, voltei a vagar, sozinho, pela cidade cinzenta. Pra variar, as condições meteorológicas conspiravam contra mim: como se apenas para reforçar o drama do momento, começou a chover no momento em que a avistei. Feliz, sem mais nada do gelo que me encantou à primeira vista, nos braços de um homem. Estaquei, atordoado, sem vontade de mais nada.

Nem mesmo de sair do meio da rua, onde um carro me acertou em cheio. O cinza do céu, o cinza da cidade, as brumas dos óculos começaram a escurecer.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Primeiros dias

Lembro que, no primeiro dia de aula na faculdade, estava nervosíssima. Mais ou menos o mesmo processo de todos meus "primeiros dias" de aula, toda vez que eu mudava de colégio. E, bem, não foram poucas. Mas divago.

O primeiro dia em um lugar que você forçosamente terá que freqüentar sempre é meio doloroso. Há expectativa demais, e, como todos nós sabemos, expectativas que dependem exclusivamente da ação de terceiros raramente são alcançadas. Chegamos à escola - ou faculdade, que seja - esperando conhecer pessoas legais, fazer amigos com facilidade e entender o assunto sem precisar bater a cabeça na parede. Graças aos Deuses (e, a despeito do que uma professora de latim que conheço teima em dizer a cada duas frases, ainda há politeístas no ocidente, sim senhora! Pare de ridicularizar minhas crenças!), até agora minhas esperanças com relação à faculdade estão sendo mais que satisfeitas.

De toda sorte, hoje foi mais um dos meus muitos primeiros dias. Não foi meu primeiro dia de trabalho; sequer foi meu primeiro dia dando aulas, ou mesmo meu primeiro dia especificamente neste curso de inglês. Mas estou há um ano e meio sem dar aulas, e eu não sabia o que esperar desta filial onde fui trabalhar desta vez. Calculem o nível de expectativa.

Mas o fantasma do primeiro dia passou, e eu ainda não estou muito certa do que esperar dos próximos. Com sorte, não serei "a escraviária", como era na outra filial. Ser monitora nesse curso é algo meio complexo; se eu já não conhecesse o procedimento padrão, me espantaria ao saber que minha função não é apenas dar aula, mas cuidar dos computadores, da biblioteca, dos petizes que precisam esperar os pais e de quase tudo que é problema que aparece e que os professores não têm tempo de resolver. 

No entanto, o dia foi tranqüilo, até demais. Consegui terminar de ler as duas Antígonas antes mesmo que o chefe viesse me avisar que poderia ir para casa uma hora mais cedo, se quisesse. Amanhã é que o bicho vai pegar, e estou ansiosa por um pouco de ação. Espero que meu inglês não tenha enferrujado a ponto de me fazer passar vergonha com os alunos do básico.

domingo, 21 de setembro de 2008

Pathos

Acho que entendo o ponto de vista de Platão quando ele diz que paixão é uma doença, e que esta deve ser evitada a todo custo.

Sob o efeito desse terrível mal, é quase impossível pensar em qualquer coisa que não o objeto de sua afeição. Mesmo quando se tem outras coisas para as quais direcionar esse sentimento. Mesmo quando se está fazendo algo que, sob circunstâncias "saudáveis", poderia ser a coisa mais divertida de todo o universo.

É um sentimento doloroso. De tanto pensar na pessoa amada, perdemos o sono, a concentração, o apetite, a identidade. Se cantamos, as canções são para ela; se escrevemos, tudo o que sai são declarações de amor. É algo tão brutalmente intenso que chega a doer fisicamente. Talvez a vida fosse melhor se tal sofrimento não existisse.

Mas, sabe? Concordo com Nanda quando ela diz que é um mal necessário para colorir nossas vidas. Aliás: é esse mal que nos faz sentir vivos. E, sem esse doce sofrimento, a vida não teria graça alguma. Portanto, a perfeição de Platão que vá às favas. Não quero um conforto apático; já disse Aldous Huxley, na citação mais perfeita de todos os tempos: "Quero Deus, quero poesia, quero perigo, quero liberdade, quero bondade. Quero pecado." E, principalmente, quero paixão, também. Em doses cavalares, sempre que possível, realizável ou não, não importando o quanto sofremos.

Afinal, apenas para citar outro de meus autores preferidos, de acordo com Dostoiévski em "Crime e Castigo": Sofrer e chorar significa viver. E ponto final.

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Freak show

Sabe o tipo de pessoa que tem o dom de atrair figurinhas estranhas? Esse é meu amigo Tyler. Pouco mais alto que eu, meio gordinho, de ascendência oriental, extremamente prestativo - a ponto de acordar horas mais cedo que o habitual para, digamos, levar uma amiga para tirar o gesso do pé ou levar o trabalho de LetA09 da mesma amiga na faculdade para ela - e... completamente maluco. No bom sentido, claro - afinal, quem é que quer ser normal em um mundo tão confuso?

O caso é que Tyler é um ímã de pessoas socialmente deslocadas. Palhaços-flanelinhas cismam com a cara dele. Mendigos do Pelourinho apelidam-no de Jet Li e seguem-no por horas. Limpadores de vidro de carro o adotam como tio. Enfim, talvez seja a aura de surrealismo que o cerca, talvez a referida aura seja de acolhimento - não importa: os rejeitados, os marginalizados e os transviados o amam.

No entanto, como já disse antes, ele não é muito normal. Houve casos em que ele saiu correndo do carro no meio do engarrafamento e deixou o celular, porque queria comprar chicletes no posto de gasolina uns cinqüenta metros à frente e, depois, para nos encontrar, tomou emprestado o celular de uma prostituta e ligou para si mesmo. Ou passou gritando na frente de uma boate lotada - para onde iríamos, mas desistimos por estarmos todos meio adoentados -, acusando todos os freqüentadores de serem "tudo v*ado e p*ta!". Ou botou seu traseiro avantajado na janela na frente do Caranguejo de Sergipe e anunciou a venda a R$1,00. Essas coisas totalmente comuns e aceitáveis (ou não) na nossa sociedade atual.

Há poucas horas, estávamos em uma lanchonete. Éramos cinco. Chovia, e juntávamos toda a coragem que tínhamos para correr até o carro. Enquanto nos preparávamos, notamos que o grupo ganhara um novo integrante: um mendigo, verticalmente debilitado e extremamente comunicativo. Que, como era de se esperar, tomou-se de amores por Tyler.

Nosso novo amigo nos acompanhou até o carro e, cavalheiro que era, fez questão de abrir a porta para mim e para a outra Diana do grupo. Admito que achei meio fofo - estou acostumada com pedintes que... pedem. Não com aqueles que tentam "mostrar serviço" para merecer uma gorjeta. Só que, dessa vez, eu realmente não tinha a dime to spare. Então ele voltou-se para nosso chinês de estimação, que, no auge de sua inspiração, responde:

- Não, Frodo, seu anel não está comigo.

Sei que é extremamente cruel, mas não houve senso ético que nos impedisse de rir às lágrimas. Inclusive nosso amiguinho portátil, que aparentemente conhecia a saga do hobbit. Surgiram moedas em honra ao senso de humor do pequenino e fomos embora.

Não é por nada não, mas acho que, se existir um inferno, e se depender dos meus amigos... É para lá mesmo que eu vou.

Esclarecendo o batismo

Há cerca de uma semana que venho enrolando para explicar o nome do blog. Juro, não é só pela minha nítida gatofilia!

Já deve ter sido amplamente notado que eu raramente sigo uma linha de raciocínio. Meu pensamento é enrolado - por isso que as idéias não se comportam, elas se perdem no meio do caminho da sua sala de repouso até o trabalho. A verdade é que não tenho UMA linha de raciocínio: são várias, e elas se cruzam, e se embolam, e entrelaçam-se e misturam-se e... fazem a maior confusão.

Tipo assim:


Fazendo assim... uma cama de gato!




Tenho plena consciência de que esse foi um dos piores textos que eu já escrevi. Calma, mais tarde eu posto alguma coisa menos inútil ;)

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Clowns (Can you see me now?)

All this weeping in the air
Who can tell where it will fall?
Through floating forests in the air
'Cross the rolling open sea

Blow a kiss, I run through air
Leave the past, find nowhere
Floating forests in the air
Clowns all around you

Clowns that only let you know
Where you let your senses go
Clowns all around you
It's a cross I need to bear

All this black and cruel despair
This is an emergency
Don't you hide your eyes from me
Open them and see me now

Can you see me now?
Can you see?

Sabe quando você está totalmente no mood pra ouvir uma determinada banda? É, desde ontem que não consigo parar de ouvir t.A.T.u um segundo que seja. Especialmente essa música. Vá entender...

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Resgato

Terminei meu cigarro e fui adiantar minha vida. Parei para dois dedos de prosa com um dos meus muitos psicopompos de estimação, quando ouvi chamarem meu nome.

Ela corria desesperada da porta aos fundos do prédio. Olhava para mim, chorava, pedia ajuda, recomeçava a maratona. Logo entendi o desespero: seu bebê, ainda menor que minha mão, preso em um buraco.

Com medo de apanhar - afinal, independente da espécie, uma mãe desesperada vai lutar com unhas e dentes pela proteção do seu filhote -, me aproximei da criaturinha assustada. Uma coisinha minúscula e tremelicante, de enormes olhos azuis e sardas sarapintando o narizinho delicado. Não ofereceu resistência e, tão logo se viu alçada do chão, agarrou-se à minha camisa como se sua sobrevivência dependesse disso. Cruzei os braços, protetoramente, e a levei até sua casa.

A mãe, depois de ver que sua cria estava segura, foi cuidar de seus afazeres e deixou a criança sob meus cuidados. Tão logo esta se acalmou, graças à segurança de seu lar, fui para minha aula.

E foi assim que fiquei amiga de Pandora, a filhota de Felícia. Ambas moram na caixa de papelão na entrada do ILUFBA, e, da última vez que chequei, estavam indo muito bem, obrigada. 

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

De Olhos Bem Fechados (Eyes Wide Shut, 1999, EUA)

Depois de irem a uma festa juntos, a vida do casal Bill Harford, médico (interpretado por Tom Cruise) e Alice Harford (Nicole Kidman) parece começar a escoar ralo abaixo.

É quase impossível fazer uma resenha de respeito desse filme sem soltar algum spoiler acidental, então fiquem apenas com a premissa deste ótimo filme de Kubrick.

Aliás, creio que cabe aqui dizer que foi o primeiro filme dele que assisti. E foi o suficiente para despertar minha curiosidade para assistir outros. É instigante, é curioso, é bad trip total. Atenção especial à cena da discussão dos dois após fazer algo ligeiramente ilegal. Me fez dar graças aos Deuses por não ter o hábito de conversar muito quando estou menos que sóbria.

Não se deixe assustar pelo fato de o filme ser longo (são cerca de duas horas e meia de duração), denso (afinal, é Kubrick) e de ritmo ligeiramente arrastado. A história acabará em dois tapas, e você ficará com aquele leve gostinho de quero mais.

Fortemente recomendado, com quatro gatinhos (de cinco) na escala Dee de qualidade.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Bastet

Tudo bem, já ficou bem claro no meu post anterior que sou gatófila. O que poucas pessoas sabem é que não o sou por opção própria - os pobres bichanos vêm atrás de mim.

Não basta eu viver cercada pelos pequeninos, quando não estou dentro da sala de aulas. Não é suficiente eu ter duas pragas peludas e destruidoras em casa. Oh, não, nunca será o bastante eu ter chaveiros de gato, gatos de pelúcia, gatos bordados nos shorts e gatos de biscuit feitos por mim mesma. É claro, óbvio, totalmente esperado que eles apareçam em todos os lugares que eu for. Independente da forma.

Vou trabalhar num evento oriental? O estande em que estou vende gatos de pelúcia e orelhinhas de gato. Vou comer um kibe no Pelourinho? Aglomeram-se uns 15 gatos ao meu redor, mendigando atenção e um pedacinho de carne. Vou comprar miçangas pra fazer artesanato? Tem três gatos deitados na porta da minha loja preferida. Vou na vendinha da esquina comprar os ingredientes do bolo que vou levar pro batismo amanhã? É, isso mesmo, uma gata no cio logo na porta, desesperada para vir comigo pra casa. Vou no shopping jogar pump e abraçar amiguinhos? Um deles acabou de achar um chaveiro gigante de gato de pelúcia no chão e resolve me dar, já que coleciono chaveiros e adoro gatos.

Depois as pessoas me perguntam por que sempre há pelos nas minhas roupas, e por que tenho tantas cicatrizes de arranhões. Não adianta, queridos. Posso ter um quê de David Bowie - e, portanto, ser meio camaleônica -, mas uma coisa a meu respeito nunca vai mudar: sou uma pessoa felina.

O que você faria se só te restasse este dia...

Nunca fui de levar muito a sério essas coisas de fim do mundo. Por isso, quando Rafa veio comentar que "o mundo ia acabar por causa da experiência com o acelerador de partículas em Genebra", nem esquentei muito minha cabeça. Aliás, quando ele disse que nem conseguiu dormir direito à noite, ainda que tenha soado cruel, não consegui conter o riso.

Mas depois eu parei pra pensar no assunto. Impossível não lembrar daquela dinâmica logo na primeira aula, sobre o que faríamos se o mundo acabasse amanhã. Senti vontade de fazer um monte de coisa que sabia que não devia, porque, afinal, vai que acaba mesmo?

Me senti fútil, pois, sentada sozinha - ou melhor, com os gatos, amores da minha vida - na frente do ILUFBA, só conseguia me perguntar se, depois da morte, os gatos iam para o mesmo lugar que as pessoas. É estranho - o pensamento da morte me assalta e eu só penso se terei companhia dos meus animaizinhos preferidos no lugar pra onde vou.

Verdade seja dita, a idéia da eternidade sem gatos me parece mais dolorosa do que a idéia da eternidade sem amigos. Call me crazy, mas acho que, no lugar para onde a gente vai, prefiro ter um psicopompo* como companheiro a uma pessoa tão perdida quanto eu.

+++

Diga-se de passagem, até agora não entendi por que resolveram fazer essa experiência. OK, eu sei que é a tentativa de reproduzir o Big Bang. Mas... para quê? Por que arriscar a existência como um todo? Para comprovar a não-existência de Deus (ou da Deusa, ou dos Deuses, tudo de acordo com o gosto do freguês)? Para ter o poder de criar um novo universo em miniatura, e, assim, não apenas derrubar um mito como tornar-se seu substituto?

Alegam que é no melhor interesse da humanidade. Até onde sei, faço parte da humanidade (embora às vezes esteja mais para felinidade), e ninguém me perguntou nada. Com isso, me sinto como se fosse novamente criança, lá naquela época longínqua em que meus pais me matriculavam em aulas de dança contra a minha vontade, dizendo que era pro meu bem, quando tudo o que eu queria era seguir com minha vidinha numa boa.

Duas coisas aí me impressionam: o fato de a curiosidade humana não ter limites e a capacidade de certos pesquisadores de se acreditarem com poderes divinos.

E, bem, se todo o mais der errado, nos vemos em Summerland**!




*: Psicopompo: Animais que acredita-se terem o poder de fazer a travessia entre o mundo tangível e o mundo espiritual, funcionando como guias astrais. Alguns dos citados como tal são: gatos, corvos, lobos, cisnes, etc.

**: Summerland: De acordo com algumas vertentes da crença pagã, Summerland é o lugar para onde vamos após o final de um ciclo de vida. Crê-se que seja um local de profunda paz e beleza, para reflexão sobre o que aprendemos durante a vida que acabamos de abandonar, e preparação para as futuras reencarnações. Outras vertentes acreditam que seja o local para onde vamos após encerrar todos os ciclos de reencarnação, atingindo assim o auge da compreensão e iluminação espiritual.

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Ai, bloqueios...

É impressionante: tenho duzentas mil idéias do que escrever e como escrever. Anoto tudo num caderno e fico ansiosa para chegar em casa, desenvolver o texto e, finalmente, postar.

Aí eu chego e... sabe as tais duzentas mil idéias? Não consigo achar uma que preste. Parece que só naquele momento em que eu tive a idéia é que eu poderia desenvolvê-la satisfatoriamente - em casa, relaxadas que são, elas se soltam, tiram os sapatos, arremessam o casaco na cadeira e acabam por perder o glamour.

Escrever não é difícil. Ter idéias sobre o que escrever também não. O difícil é convencer a idéia a se comportar...

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Cheiro de casa nova

(Copiado do endereço antigo, a saber, aqui, alterado porque eu sou uma tonga e fiz besteira)

Que sempre há uma certa resistência em mudar de endereço, todo mundo - exceto aqueles que viveram a vida inteira no mesmo lugar - sabe. Por isso, fiquei um pouco apreensiva com esse projeto da professora Eliana. Mas novas experiências sempre são úteis, quaisquer que sejam elas, então, vamos nessa.

A maioria dos participantes nunca teve um blog. Eu faço parte da ínfima minoria que já tem intimidade com a ferramenta. Portanto, vocês podem imaginar a dor no coração de deixar minha "casa" de lado. Claro, eu poderia tentar cuidar de ambos os blogs, mas... verdade seja dita, o Ninguém Merece andava bem atirado às moscas sendo filho único, tendo que dividir atenção então...

Mas enfim. É isso. Como se trata de uma parte de um projeto maior, não vejo grandes motivos para falar de mim agora. Dentro em breve devemos ter uma espécie de "quem sou eu?" ali no cantinho direito, então, fiquem curiosos até lá!

Quanto ao nome do blog... é segredo até a cerimônia de batismo =x