sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Halloween Y! 2008

Eu sabia que essa festa não ia dar o que prestasse.

Tudo bem, admito que foi bem mais movimentada do que eu esperava - a varandinha estava quase lotada, nem tinha onde sentar. Considerando-se que não esperávamos que aparecesse mais que meia dúzia de gatos pingados, sob esse aspecto pode-se dizer que a festa foi um sucesso.

E, bem, foi divertido quando uma aluna olhou para mim, pegou a ponta da minha saia e comentou, alegremente, "Nossa pró, você fica bonita disfarçada de mulher!". Acho que ela estava acostumada demais às minhas calças largas e casacos xadrezes para achar normal me ver de saia, decote e batom.

Mas eu sou purista, e esse é que é o problema.

Festa de halloween, pra mim, tem que ter clima. Tem que ter pessoas vestidas a caráter - fantasiadas ou de roupas escuras. Tem que haver um mínimo de preocupação com o estilo da parte dos convidados. Tem que ter uma trilha sonora coerente com o evento - afinal, é All Hallow's Eve, e os espíritos estão à solta. Não é qualquer porcaria que pode tocar.

Por isso fiquei tão frustrada com o halloween do curso onde trabalho. Porque é minha festa preferida do ano - a única onde ainda tenho uma remota esperança de poder me divertir sem ter que aturar coisas particularmente baixo-astral - e, assim sendo, a última coisa que eu esperava era encontrar carinhas de chinelo e camisa de time, e ouvir pérolas de tati quebra-barraco (tudo minúsculo mesmo, para realçar meu desprezo) e o créu.

Isso mesmo. Créu. E queriam que eu dançasse, como punição por ter chegado mais de duas horas depois do início da festa.

Aleguei que minha religião não permitia que eu dançasse tais baixarias. Considerando-se que um dos preceitos da minha religião é o respeito absoluto por tudo que vive, incluindo a si próprio, não menti em momento algum. O inferno congelará antes que alguém me veja rebolando até o chão sóbria e por livre e espontânea vontade.

Aproveitei a euforia geral com uma aluna que, essa sim, requebrava-se e contorcia-se como se sentisse cólicas tremendas sem o menor pudor, e saí de fininho pela escada externa.

Em casa, acendi um incenso e coloquei The Crüxshadows pra tocar. That's more like it. Halloween organizado por pessoas "externas", nunca mais.

P.S.: On a completely unrelated note, quando fui logar no blogger pra postar esse texto, em vez de "oficina" digitei "orificina". Ando pensando em besteiras demais. Isso ainda vai render um post aqui...

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Escolhas

É como num daqueles livros de RPG, "aventura solo", que de roleplay não tem nada. A cada página, é uma nova decisão que pode alterar completamente seu destino. E, muitas vezes, essas decisões são tomadas de forma tão leviana que, quando seu impacto finalmente recai sobre nós, é como levar um tiro pelas costas. Mas não é pelas costas, nós é que não nos apercebemos das conseqüências de nossos atos.

É quando você decide que quer comer queijo quente em vez de hamburguer. É abrir mão de um programa com os amigos pra ficar em casa jogando videogame. É um dia em que você resolve simplesmente acordar mais cedo e ficar no computador. É quando você cansa de engolir suas palavras e deixa tudo fluir antes de se dar conta do que está fazendo.

É a dor. Se a palavra é mais afiada que a espada, é um suicídio.

É a morte, lenta, que se aproxima sem dar sinais. É a velha conhecida tristeza, que toma conta de tudo, leva tudo embora e deixa um vazio imenso no lugar. É a paixão, a desgraçada paixão, que nubla os pensamentos. São as máscaras que caem. São as muitas máscaras que tentam se impor, num equilíbrio precário, prestes a desabar.

São as lágrimas, que caem uma por uma, deixando um rastro úmido e amargo por onde passam. É a vida.

domingo, 26 de outubro de 2008

O que é lixo pra uns...

Ele era um habilíssimo músico, a alegria de todas as serestas, o preferido de todas as nove musas. Até o dia em que não conseguiu compor mais nada. Sentindo-se traído por suas protetoras, arremessou seu instrumento no lixo, disposto a mudar completamente de vida. Estava acabado.

Ou

Acreditava que, do jeito que era, nunca conseguiria uma namorada. Garotas gostam de rapazes sensíveis, ele ouviu dizer. Comprou um instrumento musical, nada demonstra mais sensibilidade que um bom instrumento bem tocado. Esforçou-se o quanto pôde, mas nunca foi capaz de realmente apreender a alma daquilo. Frustrado, esqueceu sua companheira musical em uma gaveta e dedicou-se a outras artes. Mudou-se, e deixou para trás não apenas seu endereço, como também a flauta. O novo morador não tinha o que fazer com aquilo, e decidiu livrar-se das quinquilharias do antigo habitante da casa.

Ou

Ela sempre foi muito inquieta e tagarela, e, por isso, sua mãe decidiu dar-lhe algo com o que ocupar a boca. Não tomou gosto pela coisa - preferia falar a soprar - e, por isso, o presente materno foi abandonado às traças. Como ninguém mais se interessasse, este acabou se misturando às tralhas e sendo posto à rua.

Nunca saberei o que realmente aconteceu. Mas, quando vi aquela pobre flauta perdida na sarjeta, senti que havia uma história por trás. Juro que, se não tivesse nojinho do resto das coisas que estavam com ela, adotava. Imagine o que ela não teria para contar!

sábado, 25 de outubro de 2008

Diálogos insólitos (ou "Velha Surda Strikes Back")

- Você tá vestida de grunge gótica hoje.
- Er, grunge eu até entendo, por causa do casaco xadrez... mas gótica, aonde?
- A camisa do Evanescence, oras! Evanescence é gótico!
- Ah, claro... Nightwish também, né? *ar de ironia*
- É, e... e... como era o nome?
- ... Vamos?
- Não, vamos não é gótico não... como era mesmo?
- Wando? Claro que Wando não é gótico.
- É, Wando é metal!

Kombi

Poucas coisas nesse mundo são mais românticas que namorar no banco do motorista de uma kombi no estacionamento do Habib's. E era isso mesmo que o casal fazia, despreocupado com a vida, numa noite de sábado. Ele, com o que a gente no sudeste costuma chamar de típico bigodão de porteiro nível épico. Ela, quase indistinguível, arremessada lânguidamente sobre o colo do parceiro.

Não quis acreditar quando me disseram. Tive que conferir por mim mesma, e lá fui eu, controlando a crise de riso iminente, passar do lado da janela do motorista. Foi uma breve passagem, mas o suficiente para ouvir, em uma voz sussurrante:

- Amigo... vá com calma que sou casada.

Acho que preciso ir mais vezes ao Habib's.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Mais causos do RC...

E aí teacher Andréia entra na sala. Toda de preto, de capa, com luvas de borracha e um machado de plástico na mão.

- Have you already died today, Dee?
- Not yet, at least not the last time I checked. I thought halloween was not until a couple of weeks from now, though. Gotta love your costume.
- Thanks. Today is my kill-people day, so beware.

Tem morceguinhos colados em todas as janelas do curso, menos na minha, que tem fantasminhas e abóboras, e na da diretora, que tem bruxinhas. A parte boa de ser pagã e trabalhar em um curso de inglês é não ter que suar a camisa para conseguir folga no Beltane alegando ser feriado religioso. A parte ruim é ter que fugir das comemorações de Halloween. Especialmente quando a proposta para esse ano é um luau havaiano. Gosto da idéia de comemorar os ritos de fertilidade na praia, ao redor de uma fogueira, mas não com meus workmates, e não com essa temática.

Mas, ainda assim, é divertido. As coisas estão meio que em ritmo de fim de semestre aqui. Poucas monitorias agendadas, salas de aula vazias, enfim, tudo anda tranquilo. E isso me entedia profundamente. =/

Doida pra ir pra casa.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Algumas frases...

...só pra constar:

"Se toda a vida complexa de muita gente se desenrola inconscientemente, então é como se esta vida não tivesse sido." (Tirei do texto de Chklovski, haha. Concordo em todos os aspectos.)

"Education is an admirable thing, but it is well to remember from time to time that nothing that is worth knowing can be taught." (Oscar Wilde. Concordo em termos, mas adorei a construção.)

"A world fit for children is a world fit for everyone." (Não faço idéia de quem é o autor. Copiei do livro de uma aluna aqui no trabalho dia desses. Tenho pavor de crianças, mas não tem como não concordar plenamente com isso.)

domingo, 19 de outubro de 2008

Puxa!

Elas andavam pela rua, de mãos dadas apesar do medo. Tem muita gente má nesse mundo, muito preconceito, vai saber o que poderiam fazer.

Uma menina atravessou a rua correndo e passou do lado. Elas mal registraram a informação, entretidas no seu próprio mundinho. A vida é complicada e incerta e, pelo menos ali, naquele momento, tudo parecia simples e tranqüilo demais para se prestar atenção no resto do mundo.

A menina deu meia-volta e as abordou, com um sorriso de orelha a orelha.

- PUXA!

Assustadas, as duas pararam, soltaram-se as mãos, preparadas para a guerra, prontas para alguma crítica. Sabia, pensaram as duas, não devíamos nos expor, as pessoas não entendem, o mundo é injusto...

- Deixa eu dar os parabéns! - e as abraçou - Amei a atitude!

Voltou-se e saiu saltitante. Elas entreolharam-se.

- Amiga sua?

- Ué, achei que você que conhecesse.

Sorriram, meio sem jeito. As mãos voltaram a se unir, agora com mais segurança. Beijaram-se, no meio da rua, sem se importar muito com a opinião alheia, sem mais medo. A humanidade ainda tem salvação. 

Impressionante como um simples "puxa!" pode dar tanta coragem.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

New Order - Bizarre Love Triangle

Every time I think of you
I get a shot right through into a bolt of blue
It's no problem of mine but it's a problem I find
Living a life that I can't leave behind
There's no sense in telling me
The wisdom of a fool won't set you free
But that's the way that it goes
And it's what nobody knows
And every day my confusion grows
Every time I see you falling
I get down on my knees and pray
I'm waiting for that final moment
You'll say the words that I can't say

I feel fine and I feel good
I feel like I never should
Whenever I get this way, I just don't know what to say
Why can't we be ourselves like we were yesterday
I'm not sure what this could mean
I don't think you're what you seem
I do admit to myself
That if I hurt someone else
Then we'd never see just what we're meant to be
Every time I see you falling
I get down on my knees and pray
I'm waiting for that final moment
You'll say the words that I can't say

Coisas demais acontecendo - incluindo provas - me impediram de pensar em algo bom pra postar. Enquanto isso, fiquem com uma musiquinha /o/

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Enquanto isso, no RC...

Cenário: Resource Center, maneira metida de dizer "biblioteca/sala de informática/sala de monitoria", também conhecida como "sala da Dee".
Personagens: 3 guris, Dee e Michael, o único professor que praticamente não fala português de todo o curso.

Ato I

Guri de boné: Teacher Michael, posso usar esse PC?
Michael: Oh crap, don't you guys know you can't play here?
Guri aleatório: Quê?
Michael: ... Aline?
[Dee de fones de ouvido, fingindo que está ouvindo música alto e estudando Linguística porque não quer se meter, achando divertidíssimo alguém mais além dela dar bronca na gurizada]
Michael: OK. Vou falarr um vez só. Vocês can't jogar aqui on RC. These PCs are para fazer the House. The RC is not seu playground. Porrque you não procurar something else pra fazer?
[Guris ficam morrendo de vergonha. Dee segura o riso pra disfarçar, mas Michael percebe e dá uma piscadela de quem entende porque ela se manteve deliberadamente de fora.]

Ato II
Alguns minutos depois. Guri de cabelão entra. Guri de boné saca um pacote de bolachas da mochila.

Dee: Não pode comer no RC.
Guri de boné: Pode deixar, não vou comer não.
[Guri de boné enfia uma bolacha na boca]

Dee: Mas eu não acabei de dizer que não é pra comer no RC? Depois o teclado enche de migalha e quem vai ter que limpar sou eu!
Guri de boné: Mas eu não tô comendo!
Dee: Ah, claro que não. Você só está tirando uma bolacha do pacote, botando na boca e mastigando. Eu que sou implicante, e fico dizendo que isso é comer só pra ter motivo pra te dar bronca... Falando em bronca, pode fechar o site de joguinho que também é proibido, viu?
Guri de cabelão: Mas por que não pode jogar?
Dee: Porque estes PCs são pros alunos fazerem a House. Não pras crianças se entreterem quando seus pais se atrasam e esquecem delas aqui e elas não têm mais nada pra fazer e... olha, quer saber? Fiquei com pena, eu também morreria de tédio se tivesse que passar sei lá quantas horas esperando alguém vir me buscar. Joguem aí. Só não baixem nada, não cliquem em nada suspeito e, pelamordedeus, se o Coordenador ou a Diretora chegarem, fechem o jogo mais rápido que se tentassem falar "The book is on the table", ok?
Guris: OK, teacher!
Dee: Mas então, que jogo é esse? Sério? Nossa, esse eu não conhecia! Tá, depois você me ensina a jogar, agora eu vou voltar pra minha mesa que preciso estudar, tenho prova essa semana. Se chegar alguém querendo usar a House, vocês prometem que liberam um PC pra pessoa? Posso confiar em vocês? Então tá bom.

[Dee volta pra mesa. Entra Michael.]
Michael: GUYS! O que I acabar de say? You não have respeito pelas rules! These are the rules of this place! Rules são made parra be followed!
[Guris se assustam e saem correndo. Toca uma buzina; é a carona deles. Vão embora do curso.]

Michael: Heh, heh, heh... I'm being particularly mean today, ain't I?
Dee: Just a bit, haha.
Michael: Yeah, just a bit... Hahaha

[FIM]


Peça também conhecida como "mais um dia perfeitamente comum e normal no trabalho da Dee". Por isso que, mesmo reclamando tanto, eu insisto em dizer que adoro meu trabalho... =P

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Aniversário

Eu vi o pior dia da minha vida quase se repetir, e só fui reparar muito depois.

Foi um domingo, dia das crianças, muito bem aproveitado na frente do computador. A idéia era estudar, mas uma pessoa especial me convenceu a abandonar essa idéia besta. E ficamos conversando, por horas a fio, enquanto a pessoa que, para mim, era a representação mais fiel do que viria a ser família - um conceito que, trocadilhos à parte, nunca me foi dos mais familiares -, murchava ao meu lado, por puro medo de me perder para sempre.

À noite, foi difícil dormir. Sons de tosse e de nítida dificuldade para respirar - ah, malditos pulmões frágeis! - tornavam o sono de minha "família", resumida a uma pessoa, extremamente inquieto. E, claro, não me deixavam descansar. Até que se fez o silêncio, e enfim pude dormir.

Felizmente, dessa vez a calmaria não foi o prenúncio de uma tragédia irreversível. Desta vez, foi só uma crise de asma. Desta vez, não perdi ninguém. Mas foi impossível não associar com outra madrugada do dia 12 pro dia 13, de domingo pra segunda, de um outro longínquo outubro que, graças aos deuses, não volta nunca mais.

Cinco anos passam num piscar de olhos. Mas as saudades, as cicatrizes, as feridas abertas... Ah, essas ficam. Eternamente. Afinal, esteja presente ou não, mãe sempre vai ser mãe. E a minha ainda está comigo, mesmo que só em pensamento, mesmo que só no coração.

domingo, 12 de outubro de 2008

Meu maior medo é nunca mais sentir medo.

Pois eu insisto em concordar com Roosevelt, quando ele diz que se deve, todos os dias, fazer aquilo de que se tem medo. De preferência, em momentos de tensão. E que se danem as mãos que se recusam a parar de tremer, o coração que esquece que deve seguir um ritmo pré-estabelecido para continuar funcionando - em vez de disparar feito um louco ou congelar de vez -, as maçãs do rosto que se aquecem e adquirem uma coloração totalmente diversa da habitual, e a vontade de se enfiar debaixo da cama e não sair de lá nunca mais.

Medo também é pathos. E já dissemos antes: o pathos é o que faz com que nos sintamos vivos. E Platão que se exploda, com toda sua frieza, sua pureza, sua perfeição utópica.

Não vou dizer que não seja um processo doloroso. É, e muito, especialmente se demorar muito tempo para juntar a coragem necessária para encarar o bendito de frente. Mas dói menos que se recolher, dia após dia, chorando com medo do medo. Este é, aliás, o pior dos medos: o medo de temer, o medo de ousar superar os temores.

Mas, uma vez que se consegue... As recompensas podem vir de diversas formas: mal-entendidos solucionados, um texto particularmente ousado e bem aceito, uma afirmação inesperada e inebriante.

Não tenha medo de chorar em público; não tenha medo de dizer que gosta de alguém; não tenha medo de provocar seus sentimentos e de, possivelmente, quebrar a cara em algum ponto do caminho. Não tenha medo de dizer que errou. Não tenha medo de acertar.

Mas, que fique bem claro: ainda tenho todo o respeito por medos de altura, baratas, palhaços, escuro, aranhas e fantasmas. Porque sem esses medinhos estúpidos - e freqüentemente irracionais -, que material teríamos para implicar com nossos amigos?

sábado, 11 de outubro de 2008

Idéias Íntimas (fragmento)

Ossian o bardo é triste como a sombra
Que seus cantos povoa. O Lamartine
É monótono e belo como a noite,
Como a lua no mar e o som das ondas
Mas pranteia uma eterna monodia,
Tem na lira do gênio uma só corda,
Fibra de amor e Deus que um sopro agita:
Se desmaia de amor a Deus se volta,
Se pranteia por Deus de amor suspira.
Basta de Shakespeare. Vem tu agora,
Fantástico alemão, poeta ardente
Que ilumina o clarão das gotas pálidas
Do nobre Johannisberg! Nos teus romances
Meu coração deleita-se... Contudo
Parece-me que vou perdendo o gosto,
Vou ficando blasé, passeio os dias
Pelo meu corredor, sem companheiro,
Sem ler, nem poetar. Vivo fumando.
Minha casa não tem menores névoas
Que as deste céu d'inverno... Solitário
Passo as noites aqui e os dias longos;
Dei-me agora ao charuto em corpo e alma;
Debalde ali de um canto um beijo implora,
Como a beleza que o Sultão despreza,
Meu cachimbo alemão abandonado!
Não passeio a cavalo e não namoro;
Odeio o lansquenê... Palavra d'honra:
Se assim me continuam por dois meses
Os diabos azuis nos frouxos membros,
Dou na Praia Vermelha ou no Parnaso.

(AZEVEDO, Álvares de IN: Poemas Malditos)

Ei, eu avisei que gostava de poesia "frufru".

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Com licença, posso te dar uma cantada?

Sei que não é algo muito bonito de se dizer sobre si mesmo, mas tenho que admitir: sou fascinada por cantadas prontas.

Sempre me diverti horrores, fuçando a internet atrás dessas preciosidades de humor nem sempre voluntário. Não me importa se é das bonitinhas (Me dá o número da sua mãe? Preciso ligar para ela e agradecer por você existir) ou das mais vulgares (Belas pernas, que horas elas abrem?), o processo era invariável: ler, rir e me perguntar qual seria a reação das pessoas caso alguém tivesse a ousadia de botá-las em prática.

Foi aí que resolvi eu mesma ser a ousada. Desde então, a maioria de meus amigos (e amigas, é muito engraçado fazer isso com amigas) virou cobaia dessa experiência social meio inútil. Algumas amigas até se habituaram a ser cumprimentadas com um já clássico "oi, tá vendo aquele coqueiro? Imagina se cai um coco, rola ou não?". Tornou-se quase uma característica minha. Ah, a Dee, a doida das cantadas toscas? Ah, tá, conheço sim.

E é por isso - e porque as ideiazinhas se recusam a se comportar, correndo pra tudo que é lado e brincando de esconde-esconde, e pela Nanda ter me considerado uma expert em cantadas e relacionamentos hoje mais cedo - que decidi fazer um top 5 especial, voltado para os poucos rapazes que vêm visitar este blog, de cantadas que não se deve, EM HIPÓTESE ALGUMA, utilizar quando você realmente tem a intenção de se dar bem com aquela mocinha (ou, bem, mocinho. Vai saber...). A não ser que ela (ou ele) seja extremamente bem humorado. Ou que sua intenção seja fazer a pessoa rir.

Bem, sem mais delongas, aí vão elas:

5 - Você é tão quente que chega a derreter o plástico da minha cueca.

4 - Eu gosto de cada osso em seu corpo, especialmente o meu.

3 - Vou te chupar tão forte que você vai ter que tirar os lencóis da sua bunda quando eu terminar.

2 - - Oi, sabe porque é bem melhor se masturbar com esses dois dedos? (levantando quaisquer dois dedos)
- Não, por quê?
- Porque eles são meus.

1 - Ô gatinha, tá a fim de ganhar 50 conto fácil?

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Kibes

Nesse mundo em que vivemos, faz-se qualquer coisa por um kibe. Até sair de casa de novo, oito e meia da noite, depois de um dia exaustivo. Achei que o cansaço houvesse me derrotado; a necessidade de um jantar me tirou, ainda que temporariamente, o peso dos ombros. E, na esquina da rua da lanchonete, eu vi o carro.

Vinha a toda pela rua. Parou na esquina mal iluminada, cantando os pneus, e de dentro dele saiu um homem, os olhos brilhando furiosamente com determinação. Bateu a porta, deu alguns passos até a esquina oposta, uma mão na cintura e a outra dando aquela ajeitadinha. Aliás, o que os homens tanto têm que ajeitar?, pensei. Será que as coisas não sabem se comportar sozinhas?

Chegou até a entrada do condomínio. Eu estava apreensiva. É um assaltante? Vai cobrar uma dívida de honra com um dos moradores? Olha, do jeito que ele não tira a mão do bolso, não é possível que ele esteja só se ajeitando. Aposto como vai sair uma espada dali. Como assim, não cabe uma espada? Claro que cabe, se o bolso for furado e ele não dobrar os joelhos. Não me importa que ele está andando normal, dobrando os joelhos e tudo, Cris, me deixa prestar atenção, estou sentindo cheiro de sangue no ar e isso ainda vai dar uma boa crônica.

Não, espere, ele está indo na direção do poste. Seria possível que ele iria fazer suas necessidades logo ali, no meio da rua, nem nove horas da noite ainda? Mas é muita falta de educação! Não, não grite "mijão". Não me envergonhe!

Sem tirar as mãos da frente de seu corpo, ele se posicionou do lado do poste. O que se faz numa situação dessas? Faz de conta que não viu nada? Fica por perto e começa a torcer, em voz alta, só pra deixar o mal-educado constrangido? Informa delicadamente que havia uma lanchonete a menos de dez passos e que, se ele pudesse se aguentar mais um pouco, poderia fazer isso num banheiro, com toda a privacidade do mundo? Senta no chão e ri da cara do sujeito?

Então ele bateu palmas e chamou o segurança, com quem começou a conversar. Perdi o interesse. Meu estômago me lembrou que não comia nada desde o almoço corrido antes do trabalho, e fomos providenciar os kibes.

Droga de noite sem graça.